Quaest em São Paulo aponta possíveis caminhos para Boulos. E um calcanhar de Aquiles

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Números do levantamento apontam que Marta, Lula e Bolsonaro têm impactos distintos na disputa. E um tema em especial deve ser a aposta de Nunes para se reeleger

Por Glauco Faria, compartilhado de Fórum




Mais do que os números da corrida eleitoral em si, que mostram Ricardo Nunes (MDB), com 22%; Guilherme Boulos (PSOL), 21%, e Datena (PSDB), 17%, o levantamento da Quaest sobre a prefeitura de São Paulo traz outros dados que podem apontar possíveis caminhos das campanhas dos pré-candidatos.

Para Boulos, ter como vice a prefeita avaliada por 13% dos entrevistados como a melhor da história de São Paulo, estando no topo desta lista, é um ativo político. E não apenas por ela ter um eleitorado consolidado em algumas regiões da cidade, mas pelo que pode significar o resgate de algumas de suas realizações durante o embate eleitoral, o que já tem sido feito em inserções e peças divulgadas nas redes sociais.

Um exemplo disso foram os investimentos feitos na gestão petista nos corredores de ônibus, em especial com a implementação do Passa Rápido, que permite o embarque e desembarque do lado esquerdo, e na integração do transporte público. A mobilidade na capital paulista, embora não seja apontada como um dos principais problemas da cidade pela pesquisa, é central na vida de quem mora na cidade. Tanto que o trânsito é a área mais mal avaliada da atual gestão, com 74% dos entrevistados dizendo que ele piorou.

“A não citação [do trânsito] como principal problema é uma sinalização de que a população já convive com esse problema há tanto tempo que não o considera uma prioridade mais”, avalia o diretor da Quaest Felipe Nunes em seu perfil no ex-Twitter. É uma oportunidade para a campanha de Boulos apresentar soluções para uma questão tida como insolúvel, inclusive relembrando que se todo o planejamento na área iniciado naquela administração de Marta tivesse sido implementado, o panorama certamente seria distinto hoje.

Outro dado positivo para o pré-candidato do PSOL é a diferença de peso entre Lula e Bolsonaro na cidade. Entre os eleitores, 29% dizem preferir que o próximo prefeito seja aliado do presidente e 19% querem que seja próximo ao ex-presidente. Em relação à avaliação dos dois governos, a disparidade é ainda maior: 49% dos paulistanos têm uma avaliação negativa de Bolsonaro, índice que chega a 33% em relação a Lula.

Ou seja, “colar” Bolsonaro a Nunes é um bom negócio para Boulos, já que o ex-presidente agrega uma elevada rejeição. E, para o emedebista, aprofunda um dilema que já faz parte da campanha de reeleição do atual prefeito.

O que pode ser o calcanhar de Aquiles de Boulos

Um flanco de ataque da pré-candidatura de Boulos tem menos a ver com sua figura e mais com o cenário político atual. A violência aparece no alto das preocupações do paulistano, com 29% dos entrevistados considerando que este é o problema mais grave da cidade.

Ainda que a segurança pública seja uma questão relacionada principalmente à atuação do governo estadual, pelo que determina a legislação brasileira, o tema vai estar presente em várias disputas municipais, em especial nos maiores centros. E se a escolha do coronel Mello Araújo (PL), ex-comandante da Rota e ex-presidente da Ceagesp, como vice atrela Nunes ao bolsonarismo, também acena a esta grande fatia do eleitorado que tem o medo da violência como um fator mobilizador. 

Entra em campo nesse contexto a figura do governador Tarcísio de Freitas, cuja administração tem apostado nos mecanismos do populismo penal, alicerçados na violência policial e na falta de controle das forças, para passar a sensação de que está agindo contra o crime. Um conjunto de iniciativas e omissões deliberadas que tem impacto em parte da sociedade e já está se consolidando como um capital político-eleitoral para as pretensões políticas do ex-ministro de Bolsonaro.

O tema da segurança vai ser trazido para o centro do palco por Nunes, e a esquerda, que tem dificuldades em lidar com a temática, terá o desafio de ser propositiva, sem entrar na gramática extremista que consolida visões distorcidas do combate à criminalidade que, na prática, não resolvem o problema e punem os já excluídos. Além disso, a aliança comandada por PT e PSOL terá que trazer outras questões, mais diretamente ligadas às responsabilidades da administração municipal, para sair de uma possível posição defensiva.

As eleições de 2024 vão dizer muito sobre 2026, menos pelos nomes e mais pela agenda que as campanhas vão estabelecer. 

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