Publicado na BBC Brasil –
Passar por um posto de gasolina para encher o tanque é algo corriqueiro na maioria dos países, mas financeiramente a experiência pode ser bem diferente dependendo de onde você estiver.
Ainda que a gasolina seja um produto “globalizado”, vendido no mundo inteiro, as condições que determinam seu preço em cada país são bem distintas, assim como as possíveis repercussões de um súbito aumento.
Ao redor do mundo, o preço dos combustíveis está sujeito a variáveis como subsídios ou impostos, o preço do barril de petróleo e políticas de combate à inflação.
No Brasil, por exemplo, a Petrobras congelou o preço do combustível para controlar o aumento da inflação durante o governo de Dilma Rousseff.
No governo de Michel Temer, a empresa assumiu uma nova política de preços de ajustes periódicos de acordo com a dinâmica dos mercados nacional e internacional.
São essas variáveis, juntamente com a disponibilidade de petróleo extraído em território nacional e a distância que cada país está da fonte exportadora, é que fazem com que o preço do litro da gasolina varie radicalmente ao redor do planeta. Em determinado país ela pode custar 200 vezes mais do que em outro. E também é preciso levar em conta o poder aquisitivo do consumidor.
Ainda que o preço seja muito alto na Holanda e muito baixo na Bolívia, isso não signfica que, para os holandeses, a gasolina seja muito cara, nem que seja muito barata para os bolivianos.
Os mais baratos
Segundo a consultoria Global Petrol Prices, a Venezuela é o país com a gasolina mais barata no mundo, entre 167 países e territórios analisados em seu mais recente relatório semanal, divulgado em 9 de janeiro.
A R$ 0,04 cada litro, a gasolina continua a ser incrivelmente barata na Venezuela, país que enfrenta um difícil momento econômico, com inflação galopante.
O país tem as maiores reservas petrolíferas comprovadas do planeta. E, em meio ao colapso econômico pelo qual passa, o governo venezuelano segue empenhado em subsidiar massivamente o preço do combustível.
Outras quatro nações com a gasolina mais barata do mundo também são quase todas grandes produtoras de petróleo.
Na Arábia Saudita, o país com a segunda maior reserva de petróleo do mundo e 13º no ranking de menores preços, paga-se 54 vezes mais do que na Venezuela, mas o preço continua bem baixo: R$ 2,16 por litro.
A gasolina também é muito barata no Irã (R$ 1,02/litro) e no Sudão (US$ 1,24/litro), dois grandes produtores na Ásia e na África, respectivamente, e no Kuwait (US$ 1,27/litro).
São países que acabam comprometendo recursos fiscais para subsidiar a gasolina para seus cidadãos, porque, ao vendê-la a preços baixos internamente, renunciam a receitas que seriam obtidas na exportação de petróleo de acordo com os preços internacionais.
No último ano, o valor internacional do petróleo subiu e, caso continue disparando, como alguns preveem, o custo para manter a gasolina tão barata poderá ser ainda maior para essas nações.
Os mais caros
Talvez seja mais surpreendente a lista dos países onde a gasolina é mais cara.
O primeiro lugar fica com o território chinês de Hong Kong, onde o litro custa R$ 7,73 segundo a Global Petrol Prices, ou seja, 194 vezes mais do que na Venezuela.
Entre os motivos para o preço recorde, estão os impostos, o alto custo de imóveis e outros gastos operacionais, segundo o jornal South China Morning Post.
Na segunda posição está a Islândia (R$ 7,70/litro), nação em que impostos e a consciência ambiental ajudam a explicar por que é tão caro encher o tanque no país.
Mais intrigante ainda é o país em terceiro lugar: a Noruega, onde se paga R$ 7,44 por litro. O surpreendente é que a nação é um dos grandes produtores e exportadores de petróleo do mundo.
Graças a suas jazidas no mar do Norte, o país está entre os 20 principais produtores do planeta. Mas, em vez de subsidiá-lo, criou restrições que tornam muito caro ter um automóvel privado, em prol de políticas que incentivam o transporte público.
Suas exportações de petróleo alimentam o Fundo Soberano da Noruega, usado para diversificar sua economia, tendo em vista o dia em que as reservas se esgotarão.
A mesma lógica se aplica à Holanda (R$ 7,11/litro), em quarto lugar, seguido por Mônaco e Dinamarca, com um preço de R$ 7,04/litro.
Israel, o nono país com a gasolina mais cara do mundo (R$ 6,82/litro), por sua vez, é um país que aplica impostos altos na gasolina vendida nos postos e produz muito pouco petróleo, dependendo majoritariamente de importações.
No entanto, segundo o próprio governo israelense, o petróleo “é um recurso majoritariamente produzido por nações que não são amigos e são até mesmo hostis” a este país.
A Grécia, sétimo país mais caro, entrou na lista depois de se ver obrigada a aumentar tributos a fim de ajustar suas finanças e cumprir as rigorosas condições impostas por seus credores para obter empréstimos.
O Brasil ocupa a 91ª posição do ranking, com um preço médio de R$ 4,30 por litro, o mesmo valor cobrado atualmente na África do Sul.
Composição do preço
De acordo com a Petrobras, o preço da gasolina vendida ao consumidor final nos postos de combustível é composto por três parcelas: uma parte do produtor ou importador, tributos do governo e o lucro do revendedor. No Brasil, esse lucro equivale às margens brutas de distribuição e dos postos revendedores de gasolina.
A Petrobras afirma que 29% do preço final da gasolina comum vendida nos postos é apenas de ICMS (Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços). O lucro dos postos equivale a apenas 9% do valor final do combustível.
A maior fatia do valor é definida pela própria Petrobras – 34%. Há ainda 16% destinados à Cide e PIS/Pasep e Cofins, recolhidos pela União, além de 12% equivalente ao valor correspondente ao etanol anidro, misturado à gasolina.
Os tributos federais são cobrados como um valor fixo por litro – o de Pis/Cofins, por exemplo, é de R$ 0,7925 por litro de gasolina; a Cide, de R$ 0,10 por litro.
O ICMS, por sua vez, é um percentual sobre o preço de venda – ou seja, cada vez que ele sobe, os Estados recolhem mais impostos.
Foto da capa por Marcelo Casal /Agencia Brasil