Por Maiara Muraro, Emes de Mulher, Bem Blogado
Você pode ser feminista e ser racista (e se é branca, você provavelmente é). Você pode ser antirracista e ser machista. Você pode ser racista e gordofóbica. Você pode ser antirracista. mas ser homofóbico. Você pode ser racista, homofóbico, machista e gordofóbico – parece difícil, mas infelizmente a porcentagem de pessoas nesse enquadramento é bem alta.
A gente demora para assumir nossas fraquezas. Não é? Se é que as assume. Eu demorei para assumir as minhas, principalmente porque eu demorei me permitir enxergá-las.
A gente só entende que o discurso de raiva do outro não é para te machucar e sim para machucar o sistema, quando se permite ouvir sobre a dor do outro.
Tá tudo bem ter raiva no discurso quando sua vida e suas dores foram reflexões do privilégio do outro. E você só entende isso, quando se abre.
A tendência humana de transformar a sua causa no centro do processo é o gatilho mais perigoso da desconstrução. A gente não desconstrói em um ponto. Ou a gente desconstrói por inteiro ou a gente está buscando apenas inflamar o próprio ego.
E a gente só desconstrói ouvindo – mesmo que na base da porrada.
A gente só desconstrói dando voz pra dor alheia, dando espaço de fala para a minoria – que não tem o mesmo privilégio que você.
A gente só desconstrói quando se auto questiona. Questiona as escolhas, os gostos, as falas, as propriedades..
Não existe singularidade em sociedade que cresce a base da disparidade: um se fode para o outro se dar bem. Singularidade é utopia.
Porque, por mais desconstruído que a gente seja um dia , isso não apaga as cicatrizes da dor de ninguém.
Reaprender é ressignificar. Mas ressignificar não simboliza apagar. A gente precisa desaprender para aprender. Não tem jeito, foi tudo ensinado errado.
E para começar será preciso se questionar…
Qual é a dor que seu privilégio causa no outro? A resposta? Pode estar nas suas palavras, nas suas escolhas ou nas suas ações. #reflita