Por Carlos Eduardo Alves, jornalista, Bem Blogado –
Quando a bolha será furada? Existem dois pontos em comum em todas pesquisas recentes sobre Bolsonaro e seu governo: a inédita corrosão de apoio em tão pouco tempo e um percentual em torno de um terço da população que, apesar de todo desastre diário da gestão, continua dando aval ao presepeiro.
Se lermos com atenção o detalhamento dos levantamentos de opinião, veremos que a perda de adesão se dá agora entre aqueles que anteriormente consideram o fascista como regular e que já trocaram a neutralidade pela rejeição.
Em outras palavras, é o eleitorado que não se move apenas pelo antipetismo e que acreditava (não mais agora) que haveria melhora econômica, na área de segurança e emprego etc.
É, portanto, verdade que Bolsonaro já derreteu grande parte da boa vontade que a população costuma creditar a governos entrantes. Mas em Política devemos saber sempre o tamanho dos adversários e ele nem sempre é tão pequeno como gostaríamos que fosse.
A tal correlação de forças é sempre importante. E, lamentavelmente para nós e o Brasil, é preciso reconhecer que não é pouca coisa ter o apoio de um terço da população a ideias primitivas como as do governo de extrema-direita.
O atraso de Bolsonaro é uma coisa espantosa para o mundo e na Europa, por exemplo, Marine Le Pen, a líder da extrema-direita francesa, já deixou claro que quer distância do ogro brasileiro.
Os únicos paralelos que se podem traçar com a situação brasileira talvez estejam na Hungria e na Turquia. Mas esses dois países não têm o peso do Brasil na cena mundial. Então, como chegamos a esse ponto?
O Brasil tem mesmo 33% de fascistas, um percentual assombroso? Não, não é provável que todos os apoiadores de Bolsonaro sejam fascistas. Mas impressiona sim a resiliência que mostra esse pessoal. Um núcleo duro desse tamanho permite que ao menos um governo resista. Pode não avançar, mas não cai.
Dilma caiu quando sua popularidade foi nocauteada e parou nos 10% de aprovação. Na ocasião, seu prestígio era muito inferior ao tradicional terço do eleitorado que o PT conta em condições normais. Aliás, está se reproduzindo agora aquela divisão do um terço petista, outro do centro oscilante que decide eleições e mais um da direita.
A diferença atualmente é que a fatia da direita convencional (MDB, PSDB, DEM etc) foi engolida pela extrema-direita. E o que representa esse impasse brasileiro?
É inegável que no campo institucional, no Parlamento, a direita tradicional juntou-se aos fascistas e ao centro e impôs duras derrotas ao campo progressista.
Como exemplo maior, a Previdência que afana direitos já mínimos dos pobres, que serão obrigados a trabalhar até a morte. Só resta, portanto, apesar de todas as dificuldades, esperar que a situação econômica cada vez mais dramática, com menos e piores empregos, sangre ainda mais o capital de popularidade que o fascista mantém.
Não há possibilidade de uma reversão da crise econômica brasileira dentro dos parâmetros de Paulo Guedes e do mercado. Está difícil até o voo de galinha enquanto serviços essenciais geridos pelo governo federal sofrem ameaça de paralisação.
O modelo de Guedes, inclusive na Previdência, é o que foi imposto ao Chile de Pinochet. Inimaginável no mundo de hoje, porém, uma política econômica que seja garantida pelo extermínio físico de adversários.
Não há saída sem um mercado consumidor forte, o que é proibido em tempos de desemprego alto. Existem sinais na América Latina apontando que pode estar ocorrendo uma inflexão na onda direitista no Continente.
No México e agora na Argentina governantes de centro-esquerda desbancam queridinhos do mercado como Macri. No Uruguai e na Bolívia, com disputas presidenciais próximas, a direita está encrencada.
As soluções neoliberais começam a sofrer o veto das populações. O Brasil não será exceção. A dúvida hoje é sobre a velocidade do desgaste de Bolsonaro.
Quando a bolha do um terço for furada, os primitivos serão confinados ao hospício ideológico