Quando a desonestidade intelectual vira doença crônica

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Imaginemos um país no qual um governante de esquerda monta uma frente contra o fascismo e obtém uma épica vitória eleitoral, derrotando um Estado corrompido e autoritário, posto a serviço do presidente de turno?

Por Bepe Damasco, compartilhado de seu Blog




Só que o novo mandatário, por motivos que dariam margem a estudos aprofundados, elege poucos deputados e senadores afinados política e ideologicamente e se vê forçado a negociar com a majoritária banda conservadora e reacionária do legislativo de seu país.

É a única maneira de aplicar o máximo possível seu programa de governo e não trair promessas de campanha. Até agora a missão vem sendo cumprida, pois apresenta um cipoal de realizações, em apenas oito meses de mandato, digno de nota.

Mas, nesta nação, existe um oligopólio midiático, liderado por uma poderosa empresa de comunicação. Esse grupo diverge radicalmente dos ideais do chefe do governo e tem urticária só de ouvir falar em soberania popular e nacional, justiça social, estado como indutor do desenvolvimento, bem como de inclusão de pobres no orçamento.

Ato contínuo, monta-se um cerco ao governo, na linha  do “se correr o bicho pega, se ficar o bicho come.”

Vejamos:

Fato 1: Governo encontra dificuldade na tramitação de algumas matérias de seu interesse no parlamento.

Imprensa corporativa: “A articulação política do governo é incompetente e não consegue formar uma base de apoio forte no Congresso.”

Fato 2: Governo consegue aprovar novas regras fiscais e quebra o tabu da reforma tributária.

Imprensa corporativa: “Na verdade quem saiu vitorioso foi o presidente da Câmara dos Deputados. O governo não tem mérito no resultado, pois mais atrapalhou do que ajudou.”

Fato 3: Para emplacar matérias relevantes para o país, o governo, nas negociações com o parlamento, flexibiliza alguns pontos e desiste de outros.

Imprensa corporativa: “Governo foi emparedado pelo presidente da Câmara dos Deputados.”

Fato 4: Governo resiste a pressões para entregar ministérios estratégicos ao bloco conservador, liderado pelo presidente da Câmara.

Imprensa corporativa: “Presidente prejudica o país ao adiar indefinidamente a reforma ministerial.”

Fato 5: Mudanças no ministério ganham contornos mais nítidos e seu anúncio é questão de dias.

Imprensa corporativa: “Governo sacrifica aliados e se rende aos partidos de centro e de direita.”

Fato 6: Resultados positivos da economia já se refletem nas pesquisas.

Imprensa corporativa: “Os números promissores da economia nada tem a ver com o governo, mas sim com outros fatores. O atual presidente da República é um sujeito de sorte. Além disso, seu avanço nas pesquisas deve-se, principalmente, ao desgaste do ex-mandatário.”

Moral da história: deve ser exasperante viver em um país cujos veículos de comunicação fazem da desonestidade intelectual e da manipulação política as molas-mestras de sua atuação.

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