Quando jovem, o Brasil me deu esperança; para meu caçula, só oferece desalento.

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Por Carlos Eduardo Alves, jornalista
Desalento. Outro dia, meu filho caçula me telefonou para comunicar que em setembro vai partir para uma temporada fora do Brasil. É um menino que completou 16 anos no final de dezembro e tem muito mais juízo do que o pai. Perguntei sobre os motivos da decisão e ele me listou alguns, próprios dos jovens. Mas um me doeu. “Pai, o Brasil com esse Bolsonaro não anima, né?”
Meu filho não é extremamente politizado, se interessa mais por estudo, futebol e música antes de qualquer outro tema. Mas não é alienado. Depois que encerramos a conversa, bateu uma comparação de trajetórias e ciclos brasileiros.
Sou de uma geração que viveu o renascimento do movimento estudantil, já nos estertores da ditadura. Não peguei os anos de chumbo.
No máximo, enfrentávamos as bombas e cassetetes da agonizante ditadura militar e correrias em manifestações pela Democracia no centro de São Paulo e em episódios como a bárbara invasão da PUC, em que colegas forem feridas com gravidade.
Mas naquele tempo tínhamos a certeza que vinha coisa melhor pela frente, a ditadura, os milicos, a censura e as torturas e assassinatos ficariam para trás.
Foi o que aconteceu. Mesmo de maneira capenga, conseguimos reconquistar o direito de votar, de tentar construir um país mais justo. Havia futuro pela frente.
O Brasil testemunhou um episódio único no mundo com a construção do PT, um partido de massas em época em que o socialismo já enfrentava uma crise quase terminal no mundo.
Havia sol, a História estava acontecendo aqui, era inimaginável ir para outro lugar, perder a chance de participar ou testemunhar o novo.
Bem, o resto é História recente e que ainda não terminou. Mas me coloco na posição de um jovem que hoje tem acesso à informação e chances na vida. O Brasil anima?
Não há sol no horizonte, apenas luta para terminar com um pesadelo fascista. Depois, se chegar essa etapa, a gente conversa sobre futuro.
Não quero desanimar ninguém, até porque ainda acredito que a História é cíclica e seria covardia desistir.
É sincero o desejo de não abaixar a guarda nunca para o fascismo. Mas está muito difícil.
Bozo não brotou de bebedeiras como as que ocorriam nas cervejarias de Munique em que se cultivava o ressentimento pela Primeira Guerra e resultou no nazismo.
Bozo, e se não entendermos isso não saberemos combatê-lo, representa o idiota médio brasileiro.
E eles são muitos, milhões. Não pegue sua pequena bolha como retrato do país.
Veja como e quantos amigos de infância, familiares, colegas de trabalho, vizinhos etc pensam igual.
Não são maioria, creio já sem certeza absoluta, mas representam uma multidão de imbecis, adoradores das trevas. Estamos cercados desse lixo humano.
Vai passar, sim. Até porque vivemos em mundo cada vez mais globalizado e o horror da ignorância brasileira em determinado momento vai forçar até os donos do dinheiro a uma troca de guarda por algum modelo também espoliador de direitos mas “limpinho”.
O combate à política de extermínio de vulneráveis é dever para quem não quer ser incluído, no balanço da História, no balaio da escória por enquanto triunfante. Mas é inevitável a consternação.
O Brasil me forneceu esperança na juventude. Para meu caçula, só oferece desalento.

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