Carlos Eduardo Alves pelo Facebook –
Um vídeo que circula em redes sociais é o retrato do Brasil que emergiu no pós golpe. Em evento olímpico, um fiscal, até de maneira educada mas inflexível, determina que não seriam permitidas manifestações de qualquer tipo, camisetas, nada que remetesse a alguma crítica ao soturno da mesóclise. Como todo refratário a argumento, “cumpria ordens”.
Não vou discutir a questão jurídica, nem tanto por desconhecimento. Trata-se de um claro cerceamento à livre expressão, garantida, acima de qualquer conveniência de ocasião ou interpretação, pela Constituição. É uma afronta aos direitos democráticos mais comezinhos. O mais importante, acredito, é que o bedel carioca apenas deu cara de baixo escalão ao que já vem sendo praticado no país. Vamos parar de ingenuidade: o que esperar de respeito ao que o “livrinho” estabelece quando governante foi afastada ao arrepio de qualquer norma constitucional?
Mas o pior é o que vem por aí, lamento. O golpe só foi possível com a aliança entre os setores empresariais mais atrasados e espoliadores com uma classe média com os valores mais retrógrados nos campos moral, ético e humano. Alguém duvida do que é capaz o ministro da Justiça que, tal como um rambo paraguaio, se presta àquele papel de ceifador de pés de maconha?
A discussão ridícula do “Escola Sem Partido” caberia numa sociedade que não teme o conhecimento? O pedido de censura e chicote contra “artistas vagabundos e parasitas” espelha qual tipo de pensamento?
Estamos no inicio de um período de trevas. Há como e sairemos das mãos desse consórcio formado por políticos do atraso e a ignorância dos que tiveram a oportunidade de estudar e preferiram Miami.
Alguém concebe, em país civilizado, os pequenos golpes que estamos testemunhando, como a passagem sorrateira, malandra e anônima do interino na abertura das Olimpíadas? É possível pensar em civilidade quando um bandido como Cunha chantageia seus sócios no Poder para permanecer deputado e com foro privilegiado? Um ser com um mínimo de moralidade constitucional contempla sem corar as reuniões de Gilmar com Temer para sabe-se lá o que (de bom, nada)? Julgador e julgado em regabofe..
E daí? Daí que o bedel dos Jogos Olímpícos sente-se autorizado a exercer seu pequeno poder. Se o STF dá o exemplo que Constituição é uma combinação de letras que pode ser manipulada ie qualquer maneira e, pior, ser jogada no lixo com erudição, pode-se tudo.. Os doentes ainda acampados na frente da Fiesp se sentem delegados ao intimar quem passa por lá com roupa vermelha. É uma mistura de sanatório com poder de Polícia com o sarcasmo constitucional.
Pessoas bacanas ponderam que é preciso dar alguma esperança. O retratista do momento, se não quiser vender fumaça, não pode iludir. A miséria constitucional é o que temos para hoje. E vai piorar quando a perda de direitos econômicos e de inclusão for anunciada, passada a eleição municipal. O ano de 2017 será de chicote em quem depende do Estado para sobrevivência e sonhos mínimos de cidadania e vida. É aí, paradoxalmente, que se abrirá a chance de enfrentar a brigada primitiva. Movimentos e oposição de qualquer tipo serão mais reprimidos que os manifestantes do Rio. Alexandre Moraes está aí para isso. Não há pudor constitucional e nem pendor democrático.
Haverá a hora em que muitos que criticavam, com irrefutáveis razóes, o governo Dilma, terão saudade. Com todo o desastre econômico e político de Dilma, seu governo respeitou divergentes. Não se sabe de manifestaçções coibidas dentro de estádios da Copa. Minorias tiveram representaçção e espaço em seu governo, embora bem menos do que seria desejável. Mas Dilma é passado, sejamos claro, e a luta é para quem ficou.
Por enquanto, temos que aguentar declarações como a de hoje do diretor de Comunicação do Rio 2016. “O Brasil é uma democracia jovem. Trocamos o presidente pela lei. Nao é facil”. Desconfio que o executivo entenda tanto de Democracia como eu de folclore vietnamita. A ignorância está entronizada e oficializada. A interpretação peculiar da Constituição está entregue ao guarda da esquina. Pode mudar.