Por Carlos Eduardo Alves, jornalista, Bem blogado
O Brasil não é mesmo nem para os profissionais. Há menos de um mês, ninguém, nem o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, acreditava que os fatos iam se suceder tão repentina e rapidamente que o ex-presidente da República teria restituída sua elegibilidade para o pleito de 2022.
Lula tinha esperança em conseguir a suspeição do ex-juiz e bandoleiro judicial Sérgio Moro em algum momento, mas não tão já. E antes foi, como todos, surpreendido pela decisão do ministro Fachin de reconhecer que Curitiba não era a Vara competente para julgar seus casos, como a defesa do petista argumentava havia anos.
Fachin tentou uma manobra para salvar a indecente Lava Jato e evitar que fosse julgada a parcialidade de Moro, mas fracassou. No final das contas, ainda que involuntariamente, seu gesto a penas pavimentou o caminho para a completa desmoralização da Lava Jato.
Não se pode dizer ainda que Lula fez barba, cabelo e bigode, Afinal, não dá para ser ingênuo e confiar plenamente nos bons propósitos do STF.
O mesmo tribunal, e quase todas as mesmas pessoas, referendara antes os absurdos que meteram o petista durante 580 dias na prisão injusta e, também, crime dos crimes com o povo brasileiro, fraudou a eleição presidencial de 2018, na qual Lula era o franco favorito. Jogo jogado, no entanto.
Os responsáveis por mais um golpe contra a soberania popular um dia serão julgados pela História. Agora, a realidade é outra.
É inegável que a reentrada de Lula no cenário eleitoral zerou o tabuleiro eleitoral. O genocida passou recibo e, no mesmo dia do pronunciamento do ex-presidente defendendo o uso de máscaras na luta contra a pandemia, o sujeito apareceu usando a proteção que sempre evitou.
Na direita convencional, que num ato de desonestidade intelectual a grande mídia chama de centro político, alvoroço e desespero na procura, infrutífera até agora, de um candidato que fure a “polarização entre dois extremos”.
Na centro-esquerda, leia-se Ciro Gomes, a constatação de que a única esperança de espantar os 12% de sempre é uma conversão à estrada da direita.
Ninguém deve se espantar se Ciro se tornar o representante da chamada “direita democrática”, embora obviamente não seja o candidato dos sonhos dessa turma. Mas sabe como é, se não tem tu vai tu mesmo…
E a esquerda? O resultado imediato do fator Lula é a paralisação dos movimentos do pequeno PCdoB na direção de Ciro. E o PSOL, pode-se apostar, viverá uma luta intensa entre correntes antipetistas acima de tudo que defenderão mais uma vez a candidatura própria e um bloco mais racional (Boulos?) que não despreza a possibilidade de caminhar pela primeira vez com o PT numa corrida à Presidência da República.
Muita água vai correr até a eleição, Primeiro, o Brasil precisa ver o fim da tragédia sem fim provocada pela ignorância do genocida diante da pandemia que já enlutou mais de 300 mil famílias de compatriotas.
Mais vacinas e auxílio emergencial digno (não o atual) para que os pobres possam sobreviver ao inferno de hoje. Mas já dá para prever alguns passos, e dificuldades nas esquerdas, para Lula.
Como já deu a letra no pronunciamento que incendiou a política nacional e a esperança de quase todos no campo popular, Lula será o contraponto civilizatório diante da barbárie fascista de hoje.
Mas, e aí haverá muito barulho na franja mais radical das esquerdas, o ex-presidente tende a repetir a busca de entendimento com setores democráticos que vão além da esquerda. Capacidade de articulação política para isso ele tem, resta saber se terá audiência e boa vontade dos que vai, fatalmente, procurar.
É necessário ter olhos e pés na realidade. O genocida conta com pelo menos um terço de apoio firme no eleitorado, o que é suficiente para levá-lo ao segundo turno.
É importante ressalvar que estamos falando da temperatura de hoje. O Brasil, como vivenciamos nas duas últimas semanas, é terreno fértil para surpresas e uma areia movediça para certezas. O que temos hoje, porém, é que o jogo é outro. O craque está de volta!
Autor da imagem da capa: Quinho