Quando o suicídio pode ser um ato ditado pela ética

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Por Enio Squeff, Ateliê Squeff – 

A tese de que ex-reitor da Universidade Federal de Santa Catarina, Carlos Cancillier foi literalmente “suicidado”pela repressão jurídico policial que se abateu sobre o Brasil, com a irresponsável contribuição da mídia (que se recusou, aliás, a noticiar o fato, por não ter como ser responsabilizada pelas acusações sem provas contra o professor), enseja algumas reflexões, sobre o país sem lei em que vivemos, desde o golpe que derrubou Dilma Rousseff. A desmoralização poderia ser menor, sem prejuízo de sua ilegitimidade. Se o que vemos é a completa incompetência e corrupção dos governantes – incluídos aí o Congresso, o Executivo, o Judiciário e, naturalmente de forma não oficial a grande mídia – haveria que se cogiar que o desemprego poderia ser menor, os desmandos menos nocivos, o ódio, apenas uma manifestação dos grupelhos fascistas. E não haveria, então, como explicar que Jair Messias(?) Bolsonaro, um antípoda de qualquer pacificador, ocupasse o segundo lugar na preferência dos eleitores para presidente do Brasil. Mas não é assim.




E isso é assustador. Pois não há ninguém que aponte para uma solução, nem a longo prazo. Quando o professor Moniz Bandeira, hoje em Berlim, aventou que as Forças Armadas pudessem, ou “tivessem” de intervir no governo, num golpe dentro do golpe, deu-se, não por acaso quem sabe, a famosa conferência do general Antonio Hamilton Martins Mourão numa loja maçônica. Um desastre. Dentre muitas preciosas ridicularias, o general explicou nosso atraso pela gênese que ele fez do Brasil: seríamos, como se dizia numa piada da década de 60: “preguiçosos como os índios e burros como os portugueses”. Uma besteira, típica da irresponsabilidade dos idiotas. Mas, à época, todos a encaravam como uma piada, de mau gosto, mas piada. Para o genera Mourão, porém, há algo mesmo de indolente em nossa gênese, por causa do índio, assim como a magia (ou seja, a superstição), ficaria por conta dos africanos e os ibéricos entrariam, então, com a sua sanha de poder.

Que um general brasileiro a essas alturas, radique suas opiniões sobre o Brasil a partir das raças – teses racistas que deram no que se sabe- já seria de espantar. ou seja, que um general brasileiro diga isso, é assustador, mas que quem diga isso, seja general (quatro estrelas) do Brasil, é literalmente uma desgraça. Não estranha, em suma, que pessoas sejam encarceradas sem culpa, que a imprensa os julgue antes de qualquer prova, e que um homem de bem, diante da impotência de se defender, resolva dar cabo da própria vida

Uma vez ousei uma pergunta: qual a educação ministrada aos oficiais brasileiros. Se o que o general Mourão diz e pensa é o indício de uma resposta, haja futuro para o nosso país. Pois além de tudo, o tal funcionário Antonio Hamilton Martins Mourão – ele é funcionário público, não esqueçamos – já decidiu que não é nacionalista, que não se opõe às privatizações, que é favorável a própria alienação do Brasil.

Que país é esse?

Albert Camus, filósofo e romancista francês dizia que o grande dilema era saber se o suicídio era um ato ético. Me assusta pensar que o ato desesperado de Carlos Canciller seja uma possibilidade real e paradigmático para os brasileiros íntegros. E que amam seu país, sem quaisquer respaldo por parte de pessoas que o Brasil paga para o defenderem.

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