Por Washington Luiz de Araújo, jornalista –
Nos últimos dois anos, houve muito mais vazamentos ilegais provindos da Operação Lava Jato do que os vazamentos por fadiga de material no prédio em que moro no Rio de Janeiro. E olhem que o prédio data de 1952, tem quatro torres, com 17 andares cada uma e quatro apartamentos por andar. Somou? São 272 apartamentos, a grande maioria com encanamentos originais, de ferro, que enferrujaram, e muito, neste tempo todo.
A instituição (sic) “vazamento ilegal” foi utilizada a torto e a direito, sem cerimônia. Tudo para beneficiar os interesses de golpistas. Quantos não foram presos e condenados por meio de um conluio que entrega, à sociedade, esta esparrela como se fosse verdade suprema, soberana, dogmática e impermeável a erros e à má-fé: “se foi publicado e veiculado, então é bandido”?
Até que os executivos da OAS, Léo Pinheiro, e da Odebrecht, Marcelo Odebrecht, resolveram denunciar os tucanos de alta plumagem, como José Serra e Aloysio Nunes Ferreira. E, de lambuja, apontaram ainda o usurpador golpista Michel Temer.
E aí chega a “Veja”, a revista que vive de assassinar reputações, apontando o ministro do STF Dias Toffoli como beneficiário de favores da OAS. A ex-revista em atividade nada tem de “mocinha” em qualquer história na qual põe a mão. Coincidentemente, com a sua denúncia, “Veja” conseguiu que o Procurador-Geral da República se manifestasse contra o vazamento, vociferando que nada existe contra o ministro Toffoli. Ah, sim: e o colega deste, Gilmar Mendes, também soltou cobras e lagartos.
Tentam enterrar esses vazamentos, independentemente da quantidade e do tamanho das goteiras. Se virão outros, abençoados ou não pelos membros do judiciário, não se sabe. Mas tudo cheira a conluio nestes tristes tempos golpistas.
Lembro-me do jargão de Fernando Henrique Cardoso ao ser contrariado, enquanto presidente da República. Dizia FHC: “Assim não dá. Assim, não pode”. Os membros do judiciário somente agora descobriram o quanto são maléficos para o Estado de Direito os tais vazamentos ilegais. Isso depois de tanta seletividade e tanto filtro nas investigações para que ninguém pronunciasse os santos nomes tucanos e demais apaniguados da oposição, de modo a não contaminar-se as intenções da direita golpista. Depois do “Assim não dá. Assim não pode”, chegou a hora e a vez do “Não vem ao caso”. Cada época com os jargões aos quais faz jus.
No bloco onde moro há agora um grande vazamento de coluna. Suspirei aliviado, pois os especialistas achavam que o problema poderia ter como origem o meu apartamento. Eu seria o responsável pelo mais novo vazamento, que viria, mais uma vez, para infernizar uma vítima inocente – nessse caso, não a democracia brasileira, mas a minha vizinha do andar de baixo. Desta vez, de fato, não vem ao caso.