Ao declarar o seu voto no processo de golpe contra a ex-presidenta Dilma Rousseff, o sádico deputado federal Jair Bolsonaro fez uma hedionda homenagem à memória do torturador coronel Carlos Alberto Brilhante Ustra chamando-o de “o pavor de Dilma Rousseff”, por ele ter comandado as sessões de tortura contra ela, presa durante a ditadura militar.
Por Simão Zygband, compartilhado de Construir Resistência
Este asqueroso episódio já deveria por si só ter sido suficiente para levar o então deputado para detrás das grades, pois é crime, pelo artigo 287 do Código Penal, com pena de prisão de três a seis meses “fazer apologia de fato criminoso ou de autor de crime, apologia à tortura , ao retorno de ditadura militar ou a pregação de rupturas institucionais”. Daí para frente, Bolsonaro não mais parou de realizar todo tipo de ilícito, amparado por uma leniência judicial que lhe permitiu realizar toda espécie de barbárie, inclusive no exercício da presidência da República.
Como profissional de imprensa, não poderia deixar de parabenizar (e também de me orgulhar) pelo furo de reportagem realizado pela jornalista Juliana Dal Piva, da Folha de S.Paulo, cujo primoroso trabalho de investigação jornalística, que durou seis meses, praticamente sepultou as chances de reeleição do genocida Bolsonaro. Com sua bravura e valentia, raramente vista nos últimos anos na prática da profissão, Dal Piva se transformou no verdadeiro “pavor” dos Bolsonaros.
A reportagem “Metade do patrimônio do clã Bolsonaro foi comprada em dinheiro vivo”, realizada por Juliana Dal Piva em parceira com Thiago Herdy, ambos repórteres da Folha de S.Paulo e colunistas do portal UOL, publicada no dia 30 de agosto, é o que podemos chamar de primor do jornalismo. Não é para qualquer jornalista ter coragem de desafiar o clã Bolsonaro, ainda mais quando são tênues as salvaguardas para proteção dos profissionais de imprensa. Ressalte-se que o trabalho dela, além de meticuloso na apuração das informações, desafia poderosos, envolvidos com as milícias e tudo o quer há de pior em nosso país.
Este magistral furo de reportagem, que mostrou que quase metade do patrimônio em imóveis do presidente e candidato à reeleição Jair Bolsonaro e de seus familiares mais próximos foi construída nas últimas três décadas com uso de dinheiro em espécie, é digno dos maiores prêmios do jornalismo.
Registro aqui o seu lide (abertura) publicada nos veículos da Comunicação: “Desde os anos 1990 até os dias atuais, o presidente, irmãos e filhos negociaram 107 imóveis, dos quais pelo menos 51 foram adquiridos total ou parcialmente com uso de dinheiro vivo, segundo declaração dos próprios integrantes do clã”, revela a reportagem.
Ontem, tardiamente, sem se dar conta do efeito devastador que a reportagem teria sobre a candidatura à reeleição do genocida, os Bolsonaros tentaram calar a UOL e impor-lhe um tipo de censura. A pedido de Flávio Bolsonaro, filho mais velho do Jair, a Justiça de Brasília tentou censurar a reportagem. A liminar foi concedida pelo desembargador Demetrius Gomes Cavalcanti, do Tribunal de Justiça do Distrito Federal e dos Territórios, que determinou que o UOL retirasse do ar duas reportagens e postagens em suas redes sociais. Mas, no final da tarde, o ministro do STF, André Mendonça, derrubou a decisão. Tal atitude de censura chamou ainda mais a atenção sobre a matéria, que teve novamente recorde nos números de acessos.
Parabéns à Juliana Dal Piva. Ela não sabe o quanto fez de bem para o seu país, revelando esta inexplicável mamata do clã Bolsonaro. Os brasileiros nem sabem como agradecer-lhe.