Uma frase que a minha avó Zenilda Sateré Mawé sempre dizia era “Resistiremos até o último índio”; eu não entendia por que ela falava isso, talvez ela soubesse do risco que os povos indígenas sofriam, ou, naquele tempo, já tivesse presenciado o que presenciei esses anos.
Por Samela Sateré Mawé, compartilhado de Projeto Colabora
Na foto: Um dos buracos encontrados nas casas do último Tanaru: símbolo da resistência dos povos isolados (Foto: Reprodução)
E se você fosse o último? Aruka Juma, o último homem do povo Juma, um povo que sofreu inúmeros massacres ao longo de sua história. De 15 mil pessoas no início do século XX, foi reduzido a cinco pessoas em 2002. Um genocídio comprovado, mas nunca punido, que levou seu povo quase ao completo extermínio. Segundo a Coiab (Coordenação das Organizações Indígenas da Amazônia Brasileira), Aruka Juma faleceu em 2021 por conta da covid-19, deixando 3 filhas e seus netos.
No dia 23 de agosto de 2022, morreu o último indígena de um povo que sequer foi identificado, perdemos um povo, uma língua, suas tradições, rituais e costumes. O indígena era símbolo da resistência dos povos isolados: sua família foi assassinada por fazendeiros há quase 30 anos, tempo em que viveu sozinho na terra indígena Tanaru em Rondônia.
“Índio Tanaru”, “Índio Solitário”, “Índio do buraco” – nunca aceitava contato prolongado por medo dos não indígenas; por conta disso, nunca poderemos saber seu nome ou ouvir a língua do seu povo.
Reflexo da violência que nossos povos viveram e ainda vivem, genocídio estrutural colonial que nos mata um por um, estamos de luto, nós não queremos mais ser extintos.
Quantos mais últimos? Precisamos garantir a sobrevivência dos povos que guardam os territórios, garantir que estejamos seguros no pouco que nos resta, cumprir a constituição e a união fazer valer o seu dever de proteção e demarcação.
Que o indígena guardião do território Tanaru, volte para descansar no território que nasceu e viveu, com seus ancestrais encantados, que seu território sagrado ancestral seja protegido e não invadido queimado e desmatado.
Nos enxergamos enquanto humanos, quando nos sentimos pertencentes ao conjunto do todo, responsáveis pelo próximo, e lutando em coletividade.