Carlos Eduardo Alves pelo Facebook
Tive, em Redação, um colega curioso. Nas reuniões de pauta (em que se discute e propõe as matérias que serão feitas), ele sempre aparecia com ideias mirabolantes. Dizia que estava atrás de bombas que, se comprovadas, derrubariam os presidentes de EUA, China, Brasil e quem mais estivesse na frente.
O cara era boa pessoa, solidário, mas delirava e se expunha, vendia para a chefia pautas que jamais chegariam ao papel. Era batata: na reunião da semana seguinte, perguntava-se ao repórter o estágio da apuração e a resposta cabia em duas palavras: “Estaca zero”.
O ritual se repetia nas semanas seguintes. De tanto ouvir os delírios e a resposta, obviamente o bando de colegas malvados cravou o apelido: entre alguns, ele passou a ser o nosso querido “Estaca Zero”. Não era demitido pelos bons serviços prestados ao veículo e se virava muito bem em outras áreas.
Lembrei do Estaca Zero ao pensar no plano econômico do governo do usufrutuário do golpe de Cunha. Há um silêncio ensurdecedor depois que Meirelles falou do teto do déficit. Como há necessidade de cortar gastos, já que se insiste que não haverá aumento de impostos ou taxações para os mais ricos, obviamente a conta vai sobrar para quem depende do Estado para tarefas prosaicas como sobreviver, por exemplo.
É evidente que a tesoura vai ser aplicada em Saúde, Educação e programas sociais. Por que Meirelles não detalha o plano agora? É a Política, estúpido, a velha Política.
Primeiro é preciso sacramentar o golpe no Senado. Depois, esperar o estelionato das eleições municipais. Qual malandro vai pedir voto para quem sofreu o corte na Saúde e na escola do filho? Lembre-se que vivemos sob a ótica triunfante de um golpe em que Cunha e sua ética cederam, em contrato de gaveta, o Brasil para Temer e Jucás administrarem formalmente.
O golpe tem forma e conteúdo. O trajeto exige a malandragem perversa de recuos formais dos verdadeiros desejos de pagar a conta com o agravamento da iniquidade social. Por enquanto. Depois da eleição, o trator perderá o freio, com direção conhecida.
Não se pense, portanto, que é um governo interino que não sabe o que faz, que vai patinar na estaca zero depois de conseguir aprovar o aumento do teto do déficit. A diferença com meu ex-colega Estaca Zero é que ele só prejudicava ele mesmo quando se expunha com pautas lisérgicas e sonhadoras. O governo que Cunha empresta a Temer sabe o que quer e como chegar lá. E não tem sonho. Só pesadelo social. Mas não faltarão os que vão dizer: os que sobreviverem terão uma vida um pouco melhor.