Por Mara Rocha, Facebook –
A resistência pós golpe de 64, saiu dos setores médios da sociedade tendo a frente a juventude universitária. Isso com censura aos meios de comunicação e principalmente nas manifestações artísticas. Havia por parte da esquerda a disposição de usar a música, o teatro, o cinema, a literatura para expressar posições contra o regime. A classe média esclarecida foi a luta através da cultura. Nos sindicatos fortemente reprimidos, a lógica era a mesma.
Havia peças teatrais, encontro de intelectuais aproximando a classe trabalhadora da conscientização política. Lembro que aqui em Santos, assisti muitas vezes no sindicato dos metalúrgicos, peças teatrais de Plínio Marcos e outros autores renomados da esquerda.Havia nos sindicatos lançamentos de livros, exibição de filmes sobre a história da luta da classe trabalhadora.Nessa organização,incluía-se as comunidades eclesiais de base, sindicatos, igrejas e partidos políticos, nos cursos de orientação política para o trabalhador lia-se Marx, Engels, Gramsci, Brecht.
Havia a preocupação com a cultura popular e com a conscientização da classe trabalhadora.O tempo passou e a esquerda desistiu desse trabalho com a “redemocratização”, ficamos voltados apenas a disputa eleitoral, acreditando que a tal conscientização da classe trabalhadora se daria de modo espontâneo a partir desse objetivo. As elites sabiam que a ponta de lança da resistência popular estava na educação universitária e sobretudo nos filhos da classe média.Daí que segue toda a destruição do Ensino Público, especialmente a educação Universitária, onde residia a intelectualidade da esquerda brasileira que unida aos partidos de esquerda, partiram para a luta armada.
Não foi a classe trabalhadora que radicalizou e nem poderia diante da repressão brutal do regime. Regredimos muito, as elites fizeram um excelente trabalho de alienação promovida pela mídia, as universidades passaram a ser controladas através da mentalidade de mercado, escolas foram propositadamente precarizadas, professores foram proletarizados, enquanto que se patrocina “escolas sem partido”. A música popular brasileira, naquilo que tinha de mais relevante em termos de qualidade artística foi arrasada, com importação massiva de cultura estadunidense. Enquanto isso a esquerda que sobreviveu a clandestinidade, as torturas, prisões e ao exílio e que depois lutou nas ruas pela retomada da democracia, hoje não possui um projeto de país.
Não sabemos se Lula será impedido, nem sequer se haverá mudanças nas regras do jogo eleitoral. Questiona-se Lula ou alguém indicado por ele, se haverá coligações com partidos de direita, o que engessará qualquer iniciativa de caráter popular. A incerteza domina toda nossa visão de futuro e isso não está na cabeça apenas de setores esclarecidos, mas pode-se perceber na ausência e no descrédito da população em geral. Falta a esquerda uma estratégia de luta e um projeto para o país que não se defina apenas pela base econômica, mas que inclua a Educação e a Cultura.