Hoje, dia 24 de março, é dia de celebrar a Memória, a Justiça e a Verdade.
Por Adriana do Amaral, compartilhado de seu Blog
Na Argentina é feriado nacional e o povo irmão se prepara para ir as ruas, enfrentando o governo -e a política repressora do governo #JavierMilei. Na linha de frente, as #MadresdeLaPlazadeMayo seguem incansáveis em sua busca por localizar todas, todos, todes os netos roubados das famílias após o desaparecimento, ou melhor assassinatos de seus filhos e filhas.
Em São Paulo, o governo federal ensaia uma “mea culpa” reconhecendo a negligência do Estado Brasileiro pelo silêncio que escondeu, durante décadas, os nossos desaparecidos políticos. A cerimônia, presidida pela #MinistradosDireitosHumanoseCidadania, #MacaéEvaristo, acontece no #CemitérioDomBosco, em Perus, onde foram literalmente jogados, numa vala comum, os corpos dos desaparecidos.
Na verdade, militantes políticos foram assassinados pelo governo ditatorial brasileiro. Mas, como os ditadores não foram julgados, a verdade ainda está envolta em retóricas díspares e a justiça não pôde ser feita.
O governo Lula faz bem e mal em reconhecer.
Bem, porque é preciso desvelar a história, mal porque os algozes costumam se calar, ou falar para confundir.
Dia 31 de março se avizinha, quando se completará 51 anos do golpe militar. Qual será o discurso da direita brasileira, então?
Entre uma efeméride e outra, no dia 28 de março, será lançado, em Brasília, o #ObservatoriodeDesaparecimentodePessoasnoBrasil . A lida será buscar os desaparecidos no cotidiano da vida.
Estima-se que apenas ao longo de 2024, 66 mil pessoas sumiram do mapa.
“Amigos presos, amigos sumindo assim, para nunca mais…”
No cemitério popular em Perus, anônimo até a descoberta das ossadas, em gestão petista, aliás, quando #LuisaErundina fazia história, foram encontradas 1049 ossadas. Apenas cinco foram identificadas.
No cotidiano, pessoas de todas as idades desaparecem. A maioria são mortas em conflitos vários, com a polícia, pelos bandidos, em guerras muitas. Corpos mutilados são encontrados, inclusive de crianças, corpos #LGBTQIAPN+ , corpos pretos, corpos pobres.
Viver sem saber é pior do que receber a notícia da morte.
O livro “Os Caminhos de Maria” das jornalistas Brisa, Giovana, Juliana, Mayra e Thainá, em trabalho de conclusão de curso, relata histórias de pessoas que “saíram para comprar pão” ou “sumiram enquanto dormiam.”…
O jornalista #EduardoReina coloca o dedo na ferida com sua obra #CativeiroSemFim . Sim, crianças brasileiras também foram sequestradas e adotadas ilegalmente.
Hoje adulta, #RosangelaBurbach luta para conhecer a própria verdade:
“O governo vai me deixar morrer sem saber minha origem e o que fizeram com meus pais.”
Os familiares, que somam à luta das #MãesdaPráçadaSé acreditam no reencontro.
E quem sobreviveu às torturas, quem sobreviveu às ausências?
Neste momento, a História do Brasil está sendo reescrita, e confunde mais do que esclarece.
Ainda absortos pela história recente, num tempo presente onde a Justiça repara alguns equívocos, cerca de metade da população – menos um, o que não lhes garante a maioria – acredita nas mentiras enraizadas nos livros escolares, que esconderam verdades durantes décadas, e na desinformação que insiste em mutilar a realidade.
Leio comentários insanos diariamente nas redes digitais. Daqueles que tentam justificar, com as próprias mentirar, suas personalidades excludentes.
Estive em Perus, em 1991, quando as ossadas foram desenterradas;
Tive a honra de marchar com as madres, na véspera das eleições brasileiras, quando a bandeira da democracia foi aberta, pelas matriarcasm em prol do Brasil;
Diariamente, testemunhamos desaparecimentos de brasileiros, a maior parte deles pobres e pretos.
“Choram Marias e Clarices no solo do Brasil…”
Um país sem Memória nunca recuperará a sua Verdade e celebrará a Justiça.
Por isso, não podemos desistir de recontar a nossa história.