Queimadas: Metade dos maiores municípios do país não tem Secretaria de Meio Ambiente

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Alceu Castilho observa que falta atuação de ministras na crise climática, excesso de interesses de parlamentares no agronegócio e anistia ao queimadores

Por Camila Bezerra, compartilhado de GGN




Crédito: Marcelo Camargo/ Agência Brasil

Um dos principais assuntos da semana é o fogo na Amazônia e no Pantanal. De acordo com o INPE, o Brasil tinha quase cinco milhões de quilômetros cobertos por fumaça, área equivalente a 60% do território nacional.

Para comentar a seca histórica, o desmatamento provocado pelo fogo e o dossiê “Os Gigantes”, o programa TVGGN 20H recebeu  Alceu Castilho, jornalista e editor do observatório De Olho nos Ruralistas. 

Por meio do dossiê Os Gigantes, Alceu constatou que os 100 maiores municípios do país somam 37% do território nacional, boa parte deles na Amazônia e no Pantanal. 

Além de reunir 38% do desmatamento, estes municípios não têm sequer uma autoridade totalmente dedicada ao clima. 

“Um dado é o seguinte, as secretarias de  Ambiente, 52% desses municípios, 52 municípios dos 100, não têm Secretaria de Meio Ambiente estrita, que seja só a Secretaria de Ambiente. Elas são Secretaria de Ambiente e Agricultura, Secretaria de Ambiente e Mineração, Secretaria de Ambiente e Turismo e Pesca. Ou seja, raposas tomando conta do galinheiro”, observa Castilho.

O mesmo cenário se repete nos Estados, a exemplo de São Paulo, que sob a gestão de Tarcísio de Freitas (Republicanos) deixou de ter uma secretaria de Meio Ambiente para ter uma pasta de  Meio Ambiente, Infraestrutura e Logística.

“Então, no nível estadual e no nível municipal, a gente tem o próprio Poder Público jogando a favor da destruição, aliado, o Poder Público aliado a quem? Aos destruidores, ao pessoal que promove desmatamento”, continua o entrevistado.

Pecuária

Alceu Castilho acrescenta ainda que, de acordo com os fenômenos identificados pelo Prima Info, as chamas que tomam os biomas brasileiros estão ligados ao agronegócio.

A situação fica, na visão do entrevistado, ainda mais grave diante do posicionamento do Executivo. Enquanto a ministra Marina Silva, responsável pelo Meio Ambiente, pouco aparece diante da crise, coube ao ministro Flavio Dino determinar providências para por fim às chamas. 

“Não teria que ter sido uma decisão do Executivo? É que a gente tem contradições internas no Executivo, você citava há pouco aí, o poder do Congresso, a gente soltou um relatório,  dois anos atrás, sobre os financiadores da boiada, corporações do mundo todo, e os operadores da boiada. Operadores da boiada tinham o Arthur Lira, um desenho do Aroeira, com o Arthur Lira conduzindo a boiada, a boiada do Ricardo Salles. Então, tem essa faca no pescoço do presidente Luiz Inácio”, explica. 

“Agora, há contradições internas, o próprio Lula está falando de asfaltar a rodovia Porto Velho-Manaus. Essa é uma das últimas fronteiras para a destruição da Amazônia, e ele está atendendo a quais interesses aí? A pancada ruralista, que está amalgamada com o Centrão, a Frente Parlamentar da Agropecuária, que tem 300 deputados, e dois terços do Senado”, emenda.

Como consequência do desmatamento e da conivência política, a região amazônica está mudando. 

“Estava no ano passado na região de Placas, antes ali de Santarém. As pessoas acham que só tem plantas na Amazônia, e fui avançando numa região de devastação, onde deu para ver direitinho  o processo perto da estrada, já tinha gado, depois a gente via gado com fogo, os gados junto aos tocos de árvores queimados, até o lugar onde estavam exatamente começando a queimar, desmatar”, conta.

Anistia

Até mesmo os grandes nomes do agronegócio passaram a adotar medidas que ameaçam seus próprios interesses. Enquanto o ex-ministro da Agricultura e Pecuária do Brasil Blairo Maggi demonstrava preocupação em mostrar preocupação em mostrar que as queimadas não faziam parte do setor, hoje o país registra recorde de queimadas. 

Os queimadores, aliás, contam com anistias. “No Pantanal, inclusive, teve uma anistia recente para um fazendeiro que desmatou 80 mil hectares, mais que a metade do município de São Paulo, que é enorme. Na região de Barão de Melgaço, se não me engano, no Pantanal mato-grossense, o Estado anistiou a multa de um modo geral.”

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