Publicado em Jornal GGN –
A figura de Queiroz “faz conexões entre a estrutura política do poder central do país com a estrutura política e econômica montada pelas milícias no Rio de Janeiro”, aponta José Cláudio Souza Alves
Jornal GGN – Junto com o governo de Jair Bolsonaro e o discurso de “bandido bom é bandido morto” veio o fortalecimento das milícias e, nesse contexto, a figura de Fabrício Queiroz, ex-PM e ex-assessor de Flávio Bolsonaro, é peça-chave, de “dobradiça”, das relações das milícias com a estrutura política no Brasil. A avaliação é do sociólogo José Cláudio Souza Alves.
Em entrevista à revista Época, o sociólogo que é autor de “Dos barões ao extermínio – a historia da violência na Baixada Fluminense” e pesquisador da temática, analisou como a figura de Queiroz é significativa neste atual momento no país, porque exemplifica o fortalecimento do aparato militar no governo, em relações que ultrapassam o equilíbrio de forças, e chegam a casos como a morte de Marielle Franco ou de paralisação de investigações, como no caso do primogênito do presidente.
O sentido de “peça de dobradiça”, apontado por Souza Alves, está porque em sua visão Queiroz “faz conexões entre a estrutura política do poder central do país com a estrutura política e econômica montada pelas milícias no Rio de Janeiro”.
“O peso do Queiroz vem desse lugar que ele ocupa de dobradiça entre uma estrutura dita legal, democrática, e a estrutura criminosa, de execução de qualquer pessoa que se interponha aos interesses deles, haja vista Marielle Franco. Por isso, o interesse em esconder Queiroz, de protegê-lo de qualquer forma de investigação que permita revelar tudo o que ele oculta”, analisa o sociólogo.
Tudo isso inserido no contexto do fortalecimento do discurso de execução sumaria ou concessão de poderes ampliados de letalidade policial, acrescentou.
“Todos esses discursos e as práticas feitas pelo governo federal indicam o fortalecimento das milícias, porque a base delas está no aparato policial. É claro que tem o caso do Flávio Bolsonaro, e aí é um vínculo pessoal de um senador com o presidente da República. E há o vínculo do Flávio com a estrutura miliciana, não só pelas homenagens que ele sempre prestou ao longo de sua trajetória no Rio de Janeiro, mas também em função de um dos milicianos foragidos, Adriano da Nóbrega, ter tido esposa e mãe no gabinete do Flávio.”
Segundo o pesquisador, a aproximação ideológica da “figura do matador, do assassino, que atua dentro da estrutura policial” com aqueles “que representam hoje o poder central no Brasil” deve ser analisada como uma espécie de carta branca para violências no país.
“Enquanto perdura esse discurso de aumentar a violência para combater a violência, de uma corrida armamentista como solução, a estrutura da milícia se propaga. Deixa de ser uma originalidade do Rio de Janeiro. Já temos notícias de milícia em vários estados do Brasil. A senha foi dada e foi compreendida: vá em frente, agora é possível”, afirmou.
A entrevista completa pode ser lida na reportagem da Época.