O pecuarista Carlos Roberto Ferreira Lopes, presidente da Confederação Nacional de Agricultores Familiares e Empreendedores Familiares Rurais (Conafer), está no centro da investigação da Operação Sem Desconto, que apura fraudes bilionárias no Instituto Nacional do Seguro Social (INSS).
Por Daniele Amorim, compartilhado de DCM
na foto: Carlos Roberto Ferreira Lopes é presidente da Conafer, que teria recebido R$ 688 milhões desde 2019, com descontos indevidos de aposentados. Foto: Reprodução
Além de liderar a confederação, Carlos Lopes também é proprietário do quiosque Jaguar, especializado em artesanato indígena, localizado na entrada do Aeroporto Internacional de Brasília. O espaço foi inaugurado em 2023 e, segundo registros oficiais, tem capital social de R$ 100 mil.
A investigação da Controladoria-Geral da União (CGU) revelou que a Conafer teria arrecadado cerca de R$ 688 milhões por meio de descontos indevidos em aposentadorias de trabalhadores rurais e indígenas desde 2019. Relatos colhidos durante as apurações indicam que nenhum dos aposentados entrevistados autorizou o desconto, contradizendo o que era informado pela organização em seu site institucional.
Carlos Lopes, que também é dono da empresa Concepto Vet, dedicada à reprodução bovina, possui imóveis registrados em seu nome em Brasília e São Paulo. Mesmo após expandir a atuação da Conafer para países africanos, o empresário agora enfrenta graves acusações. A investigação da PF e da CGU estima que o esquema, envolvendo várias entidades, movimentou R$ 6,3 bilhões de forma ilícita.
Na última quarta-feira (23), a PF deflagrou a operação em 14 estados e no Distrito Federal, cumprindo mais de 200 mandados de busca e apreensão e realizando seis prisões. O caso levou ainda ao afastamento do presidente do INSS, Alessandro Stefanutto, e outros integrantes da cúpula do órgão. Desde maio de 2024, o INSS endureceu os critérios para novas filiações, exigindo reconhecimento facial e apresentação de documentos para evitar novas fraudes.

A Conafer divulgava em seu site o programa +Previdência Brasil, apresentando-se como promotora da educação previdenciária sem custos adicionais para os beneficiários. No entanto, as investigações apontam que a prática era diferente do discurso oficial, com descontos aplicados sem o consentimento dos aposentados. Somente no primeiro trimestre de 2024, mais de 621 mil beneficiários foram afetados.
Procurados, Carlos Lopes e a loja Jaguar não responderam aos pedidos de posicionamento até o fechamento da reportagem do Metrópoles. Em nota, a Conafer afirmou acompanhar o desdobramento do inquérito e disse confiar no sistema judiciário. A entidade destacou ainda que o recurso do INSS representa apenas 11% de suas receitas totais.