Por Gustavo Gollo, publicado em Jornal GGN –
Os 5 meses de demora nas investigações do assassinato de Marielle atestam que seus ilustríssimos assassinos têm padrinhos poderosíssimos, capazes tanto de dificultar as investigações, quanto de espargir grossas cortinas de fumaça através dos meios de comunicação para acobertá-los. As digníssimas criaturas, os assassinos, têm sido poupadas dos mais mínimos incômodos, enquanto constrangimentos e suspeitas têm sido lançados sobre bois de piranha que obviamente nada têm com o caso.
Articulações recentes, no entanto, sugerem que o controle dos meios de comunicação – nas mãos de padrinhos dos digníssimos assassinos –, não esteja sendo suficiente para barrar as investigações da polícia civil do Rio, ocasionando profundo mal-estar entre os poderosos cúmplices do assassinato.
O nervosismo causado pelos resultados contundentes já obtidos pela silenciosa polícia do Rio gerou, na semana passada, tentativas de desarticular as investigações tirando-as das mãos dos atuais investigadores.
Decorridos 5 meses do crime, a atitude aparentemente desvairada de trocar os responsáveis pelas investigações pode ser compreendida tendo-se em mente tratar-se de tentativa de encobrimento, tanto dos assassinos, quanto da enorme rede de cúmplices – plantados em altas esferas governamentais estaduais, federais e nos meios de comunicação – que lhes tem proporcionado cobertura e conforto durante tão largo tempo.
O endosso do ministério público estadual a essa tentativa oficial de abafamento do caso, assim como as fortes suspeitas – ocultadas pelos meios de comunicação – de que a execução de Marielle Franco tenha sido cometida por policiais, expõem as intensas dificuldades pelas quais os investigadores têm passado e explica a longa demora para a conclusão do caso, enquanto o titular da promotoria que acompanha o caso foi promovido apesar da ausência de resultados após tão longo período,
A movimentação direcionada à interrupção das atuais investigações, agora em fase final, sugerem que a polícia esteja, de fato, averiguando o crime – constatação surpreendente com respeito a ocorrências de natureza similar no RJ.
Com os olhos do mundo mantidos em expectativa sobre os desdobramentos do assassinato, e sob inusitada pressão internacional gerada pelo gigantesco estardalhaço causado pela execução covarde – reiterada por comunicados da ONU, do Papa e de autoridades governamentais do mundo inteiro –, espera-se uma solução do caso, revelando os assassinos e toda a vasta rede de cúmplices que tem garantido o total apoio aos ilustríssimos assassinos.
A bomba gigantesca evidenciará uma longa sucessão de crimes análogos realizados pela vasta quadrilha protegida pela poderosíssima rede de padrinhos, além de inúmeras ramificações com o crime organizado. A pressão internacional proporcionará oportunidade única para que tão vasta e poderosa rede criminosa seja desbaratada.
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Eu havia escrito o texto acima na semana passada. O sábado, no entanto trouxe uma enorme surpresa, prestes a causar, aparentemente, um entrave ainda mais drástico que os anteriores, às investigações.
Ao contrário do que vinha fazendo há 5 meses, quando suas notícias tinham como propósito apenas lançar cortinas de fumaça sobre o caso, com o intuito de confundir o público e encobrir os assassinos, O globo publicou, no sábado, uma notícia bomba revelando a existência de um grupo conhecido como “Escritório do crime”, formado por policiais e ex-policiais — entre eles um major da ativa e um ex-oficial do Bope — altamente especializados em execuções por encomenda, sem deixar pistas.
Segundo O globo, a polícia teria tomado conhecimento dessas pistas ao interrogar um integrante do grupo, que chega a cobrar R$ 1 milhão por assassinato, fazendo parecer que o de Marielle tenha sido uma pechincha: R$ 200 mil, embora a quadrilha tivesse pedido mais dinheiro depois da repercussão do caso. O jornal não revela a quem o pedido foi encaminhado.
A revelação bombástica prometia desdobramentos estrondosos, com um alarde retumbante de todos os meios de comunicação do país e do mundo! O estrepitoso silêncio que acompanhou a enigmática expectativa deixou no ar um intenso tom de suspense. Restava esperar a noite de domingo com a cobertura do Fantástico, esmiuçando escabrosas filigranas do hediondo antro de assassinos conhecido como escritório do crime: nada.
Ontem, segunda-feira, no entanto, o G1 repetiu secamente a notícia que, a se crer nas pesquisas do google, nenhum meio de comunicação do RJ ousou repetir, tendo sido ecoada apenas por publicações menores de paragens distantes, sugerindo que o conluio organizado para acobertar os assassinos engloba toda a grande imprensa nacional, não só a do Rio.
Assim mesmo, no entanto, o fato foi suficiente para, segundo manchete de O dia, causar uma revoada no ministério público, com a saída de 3 promotores do caso, que se somam a um outro que havia sido promovido quando nas comemorações do quinto mês sem nenhum resultado nas investigações. Hoje cedo esse fato era anunciado como “revoada”;mais tarde passou a ser uma troca.
Os desdobramentos mais graves, no entanto, parecem estar ocorrendo na esfera federal. A revelação indiscreta do ‘Escritório do crime’ parece ter mobilizado todo o departamento jurídico da ‘Empresa do crime’, enquanto o departamento de comunicação da fabulosa empresa permanece empenhado em instituir silêncio esmagador.
Tudo indica que as mobilizações tenham como propósito impedir que os investigadores desvendem não só o ‘Escritório’, mas toda a ‘Empresa do crime’, com seus monumentais departamentos de imprensa e jurídico.