Por Enio Squeff , artista plástico, jornalista, escritor
Tudo mal: o homem venceu. Já os fascistas estão nas ruas, a ameaçar os que não votaram a favor da ditadura (é espantoso: a vaca ser a favor do açougueiro); e o juiz Sérgio Moro pode comemorar. Não só cumpriu seu papel de encarcerar Lula, mas alcançou ser o novo ministro da Justiça. Ele pode ter muitos defeitos, não o da desobediência.
Para ser original: tudo como o diabo gosta. Pois este, afinal, é o grande vencedor.
Os cristãos evangélicos e católicos que votaram em Bolsonaro, se somam aos matadores de Cristo. Assim como dizem que “Deus é por eles”, eles são pela tortura e a morte.
Deixaram claro que a recomendação de São Paulo de que todos os homens podem ser cristãos é válido, a partir de agora, nos termos em que o Capitão estabeleceu: afora os homossexuais, com as mulheres usando a burca da submissão, e o ódio, agora, entranhado nos corações e mentes, vivam os demônios dos religiosos. Eles os acompanharão nos ofícios e nas missas.
Que fazer?
Enquanto nos deixarem falar, protestaremos. Não estranhem, portanto, com o silêncio previsível deste espaço. É porque me impedirão de falar. Mas se nos deixarem, iremos nos insurgir com as novas condenações a Lula (a sua prisão
perpétua foi sempre o que a Justiça – incluindo o STF, quis), assim como a repressão contra a cultura, além da censura a todas as manifestações , a tortura e a morte.
O maior engodo da história, afinal, se repete. Hitler foi sincero ao dizer que iria eliminar os judeus e seus opositores. Ninguém acreditou. Então o guindaram ao poder. E ele foi coerente: torturou, matou, acabou com toda a liberdade de manifestação. O Capitão, infelizmente, ao que tudo indica, não fará diferente.
Como deixou claro em suas falas, a ditadura civil militar não cumpriu seu papel completamente. Como ele nunca escondeu, o governo civil-militar errou ao torturar em vez de matar. No mais, conta com o apoio de grande parte dos pastores, e tem membros da alta hierarquia católica a seu favor.
Não foi, em suma, por mero rompante que Ciro Gomes – o pusilânime, falastrão e traidor Ciro Gomes – chamou o Frei Leonardo Boff de “bosta”. Tem um papel a cumprir, e o premio talvez lhe seja um ministério no novo governo, quem sabe. Não existem limites para os traíras.
Há escolhos, evidentemente. Não é possível que as Forças Armadas brasileiras sejam unanimemente a favor do fim da soberania nacional. Hoje o Brasil é um país invadido por alienígenas, com amplos setores da população a apoiá-los. Foi assim na França, subjugada pelos alemães.
Lá, grandes contingentes das forças policiais e das Forças Armadas não hesitaram em prestigiar os nazistas. Alguém se ilude de que logo serão expedidas ordens de prisão contra Stédile e Boulos e, quem sabe, até mesmo deste modestíssimo escriba que fez da pintura a sua profissão de fé?
Ditaduras, senhores incréus (nos quais se incluem homossexuais, negros e antipetistas babacas que deram seu voto ao Capitão) não nascem por geração espontânea. Quando um policial civil diz que é a favor de Pinochet e que ele matou quem devia, – há um deles a berrar isso pelas redes sociais – não os subestimemos.
Os fascistas têm a inegável sinceridade de dizerem o que pensam, e de fazerem o que dizem.
Imagem da capa: Morituri” os que vão morrer | 60×50 cm
Pena com tinta china, acrílica e monotipia sobre reprodução em Canson