Por Bepe Damasco, compartilhado de seu Blog
“Oi, tudo bem? Bom dia. Como vão as coisas no ministério? Gostaria de lembrar que faltam só três anos e meio para o fim do mandato.”
Foto: Ricardo Stuckert
Segundo gente que circula pelos bastidores de Brasília, essa tem sido a saudação recorrente do presidente Lula aos seus ministros.
Guiado por sua reconhecida sabedoria política, Lula sabe que não há termos de comparação entre o Lula 1, Lula 2 e o Lula 3.
É que o Brasil mudou. E mudou para pior. .
Qualquer governante do campo democrático e popular, nos dias que correm, terá sempre à espreita uma extrema-direita antidemocrática, babando ódio, mas com densidade eleitoral e expressão política e social.
Devido a um conjunto de fatores que ocupariam o espaço de pelo menos dez artigos, a desgraça brasileira de hoje reside na constatação de que parcela considerável, embora minoritária, da população do país comunga dos valores mais sombrios e repulsivos do neofascismo nativo.
Além de seu compromisso histórico de melhorar a qualidade de vida do povo, a pressa obsessiva de Lula, que, diga-se de passagem, vem rendendo frutos, já que em apenas seis meses já apresenta um respeitável rol de realizações, decerto está relacionada à urgência de desgastar e isolar a oposição bolsonarista
Primeiro Lula cuidou de trazer de volta parte da base popular perdida para o obscurantismo ao recolocar de pé todos os programas sociais exitosos da era petista, além do aumento da faixa de isenção do imposto de renda e do resgate da política de valorização do salário mínimo.
Mirando os estratos médios e os formadores de opinião, Lula não descuidou de ações de revalorização da cultura, da ciência e de defesa do meio ambiente, setores destroçados nos quatro anos do governo anterior, bem como da retomada do protagonismo do país na cena internacional.
A inflação está em queda acentuada, o desemprego arrefece, a moeda nacional se valoriza, enquanto as arrombadas contas públicas começam a entrar nos eixos com o novo arcabouço fiscal e a reforma tributária (que era tabu) avançando no Congresso rumo à aprovação final prevista para o começo do segundo semestre.
Restam como nós a serem desatados exatamente as principais cidadelas da extrema-direita: o agronegócio, os militares e os evangélicos neopentecostais.
Reportagem interessante recentemente publicada pelo portal UOL mostra como Lula atua nessas frentes.
Como não se faz omelete sem quebrar os ovos, o governo Lula teve que aceitar, na PEC da reforma tributária, não só a confirmação da isenção tributária das igrejas, mas sua ampliação para as entidades ligadas a elas. Era a condição da bancada evangélica para votar a favor.
Do ponto de vista republicano e da justiça tributária, uma tremenda bola fora, sem dúvida. Mas o governo avaliou ser um mal menor diante do risco de derrota da reforma tributária.
Em relação às Forças Armadas, Lula não abre mão de fazer valer a função constitucional dos fardados, investindo na sua despolitização.
Em que pese seja ainda notável o contingente de militares golpistas nas três forças, a política de despolitização vai ganhando terreno, impulsionada pelo cansaço da caserna gerado pela insanidade bolsonarista.
Por outro lado, o volume extraordinário de recursos destinado pelo governo ao Plano Safra é uma aposta do Planalto para reverter a situação em outro terreno hostil e extremamente reacionário, que é o agronegócio.
São ações tópicas e ainda tímidas se confrontadas com o desafio enorme de se avançar nesses bastiões do extremismo. Mas revelam um Lula cada vez mais antenado, em busca da superação dos muitos obstáculos políticos encontrados pelo caminho.