Na Zona Norte, facção criminosa, autointitulada Tropa de Arão, usa estrela de Davi como símbolo e estabelece regime de terror no Conjunto de Israel
Por Edu Carvalho, compartilhado de Projeto Colabora
Na cruzada que se abriu para a legítima defesa de Israel, no Oriente Médio, minha preocupação se divide. Pudera: abaixo do Equador, bem em nosso patropi, coexiste também uma Israel, num conjunto – e não ‘’complexo’’ – que une favelas da Zona Norte do Rio de Janeiro, onde se riscam também no chão limites muitos acirrados entre religião e violência.
Ditos ‘’ungidos’’, civis armados detém o domínio e a gestão do tráfico de drogas em Parada de Lucas, Cidade Alta, Vigário Geral, Cinco Bocas e Pica-pau, além de outras três comunidades, todas com referências bíblicas usadas como estandartes. No alto de seus morros, a estrela de Davi, fincada e reluzente, percebida por quem passa pela coluna cervical mais bonita do país, a Avenida Brasil, pode até parecer um adorno em meio ao céu estrelado de casas, mas seu real significado tem um sabor bem menos agradável.
Por lá, a “Tropa de Arão”, como se intitula a facção criminosa, manda e desmanda; e quem está sob o poderio fica à mercê do que acontece. Todos sob a ameaça do perigo iminente que não escolhe gênero, credo, raça ou idade. Se existe barbárie no Israel real, por aqui os exemplos são replicados. Desaparecimento? Tem! Como o ocorrido há um mês em Vigário, no episódio em que J. V. A. S., de 16 anos, sumiu. Seus familiares e amigos levaram cartazes com fotos e pediram por justiça – assim como as imagens que ganham o mundo, com o rosto dos reféns e os pedidos de libertação, desde o início dos ataques terroristas do Hamas.
O receio? O corpo, ou melhor, os corpos caírem na “Faixa de Gaza”, outra similaridade entre os conflitos armados. Assim foi batizada uma área de 95 quilômetros, abrangendo 33 bairros, cortando do Caju à Pavuna, incluindo as favelas do Jacarezinho e os conjuntos da Maré e do Alemão – duas comunidades, que, por sinal, esta semana, foram palcos de terror durante uma operação policial. Mas não só: ao todo, dez favelas do Rio de Janeiro amanheceram sob tiros, emitidos como despertador, numa megaoperação da Polícia Militar. Na incursão, nunca satisfeitos, invasões em domicílios, dificuldades de transitar entre os becos e vielas, e o valoroso saldo de nove pessoas mortas. Yes, aqui também tem genocídio.
Se as crianças são mortas na Gaza de Israel, infelizmente a lotes, aqui são impedidas de irem à escola. Com o episódio da semana, mais de 20 mil alunos ficaram sem aulas. E os impactos dobram, já que 15 linhas de ônibus foram afetadas por conta dos tiroteios e unidades de saúde ficaram sem funcionar. Se isso não é um tipo de bombardeio, eu não sei o quê explicar.
No último domingo (25), vimos pipocar nas redes sociais um vídeo onde senhoras, presentes na manifestação organizada por Jair Messias Bolsonaro, ex-presidente, fazem um relato pela proteção do território de Israel e contra o que acontece do outro lado do mundo. ‘’Estamos com Israel porque somos cristãs (…) Israel nos representa, Israel está com nós (…) Estamos com Israel porque não são terroristas, somos contra o terrorismo’’.
Resta saber se essa união também se dará por quem é violentado aqui, bem debaixo dos nossos olhos.