Por Luiz Antonio Simas –
Em fevereiro de 2016, o site oficial da Igreja Universal do Reino de Deus publicou um artigo e um vídeo do Bispo Clodomir, uma das figuras de destaque da organização, intitulado “Por que devemos nos desligar do Carnaval?”
Resumidamente, o bispo argumenta que o carnaval é uma festa do diabo e quem participa dele está “agradando ao espírito maligno e expondo a própria alma ao inferno”. Diz também que quem morrer durante o carnaval – em acidente de carro ou consumindo drogas pesadas – vai direto para os braços do capeta. O carnaval também desestrutura as famílias, por causa da “grande valorização da sexualidade e das traições amorosas”.
Na época circulei este texto na rede, alertando aos carnavalescos que fazem do carnaval profissão, labor e lazer; e consideram o carnaval um poderoso evento da cultura, que apoiar o projeto de poder da IURD para o Rio de Janeiro, centrado na figura do Bispo Crivella, era apostar em um projeto que esvaziaria o carnaval para, a médio prazo, liquidar completamente a festa.
Crivella precisa vender a ideia de um governo minimamente cordial. É essa aparente cordialidade que preparará em médio prazo o projeto de poder do Brasil teocrático da IURD, baseado no abrandamento estratégico e circunstancial da guerra santa (o próprio fundamento da empresa/igreja), para a chegada à presidência da República e a montagem de um STF predominantemente neopentecostal.
A desculpa de que vai diminuir a subvenção das escolas de samba para construir creches é fajuta, mas cola que é uma beleza. No fundo, vou insistir, a ideia é mesmo esvaziar a festa e preparar o aniquilamento do Carnaval. Já começou.
A hora agora é de mobilização, esquecendo eventuais divergências, de quem ama a festa e a cultura da cidade (abrindo inclusive canais de diálogo com setores de dentro do próprio governo – penso na turma da secretaria de cultura – que certamente lutarão nas internas para garantir a sobrevivência do folguedo).
A ironia disso tudo é lembrar de alguns dirigentes de escola de samba saudando o bispo e cantando pega no ganzê com ele. Os espertos acharam que estavam numa festa e não perceberam que tinham sido convidados para o velório coletivo deles mesmos.