Questão de tamanho

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Por Carlos Eduardo Alves, especial para o Bem Blogado – 

O assunto ganhou corpo e o que era até pouco tempo apenas cochicho já virou polêmica: candidaturas presidenciais em 2018. Se Lula é o personagem principal até nas conversas da direita, imagina o que já está rolando no campo da esquerda.




É razoável supor que, candidato, Lula seria o favorito para ganhar. O desastre do governo Temer é um empurrãozinho a mais para o ex-presidente. Um entrave seria a ainda relevante rejeição, fruto da campanha incessante de Judiciário e mídia. Mas tenderia a reduzi-la bastante dispondo de tempo de TV em campanha.

Repare que o texto usa o condicional para falar de candidatura Lula. Na verdade, não se sabe se a Justiça (?) permitirá sua postulação ou se até mesmo o petista estaria disposto a enfrentar mais uma caminhada incessante pelo país. Lula é um ser humano de 71 anos que acaba de perder sua companheira na vida, é bom lembrar.

Raciocinemos com a eventualidade de Lula ser candidato. Estaria colocado aí um imenso desafio para o PT e petistas, não no sentido óbvio de empenho na campanha. O risco é o partido não reconhecer que já não tem o mesmo peso de antes. Sim, o PT ainda é uma legenda forte, mas muito menor do que já foi. Os motivos ficam para outro texto, mas é importante que os petistas saibam trabalhar com a nova situação.

Resumindo, mais do que já era, Lula é hoje muito maior do que o PT. Se em alguns momentos, até impulsionado pelo sucesso dos dois governos de Lula, a agremiação foi a depositária quase única das forças de esquerda, hoje isso não existe mais. Continua como a mais forte e enraizada em seu campo, mas enfraquecida.

É preciso um trabalho de reconstrução interna, recuperar o ânimo da militância, mudar métodos e disputar espaço na juventude. Sim, é uma constatação: os eventos e atos do partido são pontuados pela maioria de “cabeças brancas” ou calvas. Não há futuro se o PT não se oxigenar.

No campo externo, qualquer aliança a ser discutida em torno de Lula terá que ser feita sem aquela alguma arrogância que marcou os tempos de glória do PT. A correlação de forças na esquerda mudou, embora nenhuma força expressiva tenha surgido de fato. Há sim um certo desânimo de muitos que se desiludiram com a legenda, mesmo que sem aderir a outra. E essa reconquista de base passa por questões delicadíssimas como a indisfarçável preferência da maioria de parlamentares petistas pelos acordos de gabinete e ausência na rua, a inegável perda de influência do movimento sindical, o diálogo com vozes novas como os movimentos sociais urbanos…

O mesmo desafio, maior ainda, aliás, ocorrerá se Lula não for candidato. O PT não tem um nome expressivo nacionalmente para substituir o ex-presidente numa corrida presidencial. Pode até tentar construir uma alternativa, mas o sucesso da empreitada, com olhos na realidade de hoje, é improvável. Mesmo alianças, ainda na hipótese de Lula fora do páreo, não serão fáceis. Basta atentar para as redes sociais quando se joga o nome de Ciro Gomes como hipótese. A polêmica é imediata, vira um Fla x Flu interno.

Enfim, o quadro hoje é muito melhor, para o PT, do que era no início do ano. O Brasil é mesmo o país em que é difícil prever o passado, como se brinca. O importante é que o PT não se inebrie com o sucesso de Lula, que por vias tortas começa a colher a gratidão dos pobres pelos bons 8 anos. A soberba é um perigo em tudo na vida, também na Política. Um bom começo da lição de casa será lembrar que Lula, na sociedade, sempre foi maior do que o PT. Hoje a distância aumentou.

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