“Ração do Dória” e a indignação coletiva

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Por Rodrigo Perez Oliveira, via Cláudia A Mortari Shimidt, Facebook – 

Quero falar sobre a tal da “ração do Dória”, que se tornou objeto da maior polêmica de todos os tempos dos últimos três dias.

Sou completamente ignorante no assunto e como bom ignorante fui pesquisar, fui verificar o que dizem os especialistas.




Entende, amiguinho que se acha capaz de ter opinião formada sobre tudo? Sim, você que se julga apto para opinar sobre a a gestão do petróleo ou sobre a história da ditadura militar brasileira sem nunca ter lido uma linha sobre assuntos tão complexos.

A ignorância não é pecado, pois todos somos ignorantes em algum assunto. O pecado está na ingenuidade de se deixar levar por um senso comum criado deliberadamente pra te convencer que a Petrobras deve ser privatizada e que não existiu ditadura militar no Brasil.

Adultos podem, e devem, ser ignorantes, mas jamais deveriam ser ingênuos. A ingenuidade somente é tolerável entre as crianças. Tive um grande mestre que dizia isso.

Enfim.

O fato é que não há consenso entre os especialistas sobre a tal ração.

Alguns, falando pelo Conselho dos Nutricionistas, definem o “alimento granulado” como uma ofensa aos direitos humanos. Os quadros técnicos da Prefeitura de São Paulo, evocando pesquisas internacionais, afirmam o contrário.

Se nem os especialistas estão de acordo, não serei eu a fechar posição em assunto que parece ser tão delicado, por mais que eu queira motivos para desqualificar João Dória.

Nem precisaríamos da tal ração pra desqualificar o Prefeito de São Paulo. Sozinho, ele já nos dá vários motivos, a nós e aos seus aliados, que cada vez mais apoiam menos os devaneios do sujeito que não entendeu que a Prefeitura de uma grande capital é um fim em si, e não um mero pretexto pra campanha presidencial.

O que mais chama a minha atenção sobre o projeto “Alimento para Todos” é que os mesmos que passaram a última década criticando o Bolsa Família, hoje apoiam a iniciativa de João Dória.

Quando a Prefeitura dá “alimento granulado processado” para os pobres, o cidadão de bem não fala em “esmola” e nem diz que o certo seria “dar a vara e ensinar a pescar ao invés de dar o peixe”.

Essa indignação seletiva, característica dos homens e mulheres de bem, pais e mães de família com moral ilibada, traduz uma crueldade que só é possível em almas corrompidas pela herança do escravismo, tão viva entre nós.

É como se essas pessoas estivessem dizendo o seguinte: “você é pobre e não pode escolher, então coma isso que estou lhe dando e lamba os beiços. Se reclamar nem o farelo vai ter”.

O Bolsa Família não é farelo. É dinheiro público distribuído. O beneficiado saca a grana na agência bancária, sem depender da generosidade ou da piedade de fêla da puta nenhum.

O Bolsa Família é o Estado entendo que ninguém pode viver sem o mínimo e pra ter o mínimo não precisa dar nada em troca, nenhuma contrapartida. O mínimo é o mínimo. É o básico para ser humano, para ser gente.

O beneficiado pega a grana do Bolsa Família e gasta como achar melhor. O direito de escolha tá garantido.

As pesquisas especializadas mostram que a grande maioria das famílias beneficiadas pelo Bolsa Família têm renda, ou seja, trabalham e utilizam o benefício como complemento.

Complemento pra comprar danone pros meninos, pra comprar biscoito, pra comprar produto de higiene pessoal.

Só os canalhas acham que o “mínimo” se limita ao farelo necessário pra manter o organismo vivo. Essa é a diferença entre nós, os golpeados, e os canalhas golpistas: para nós, estudar na universidade, ter casa digna com dois quartos, poder consumir tecnologia fazem parte do “mínimo”.

O miserável que o Bolsa Família transformou em pobre tem direito de escolher com o que vai gastar o dinheiro.

Uma capacidade de escolha que é restrita, mas que é garantida. Pra quem não tinha nada, o pouco é tudo.

O grande câncer desse país, meus amigos, é essa elite arcaica que não conseguiu se modernizar. Uma elite aristocrática, que não é capaz de ser cristã, que não valoriza sequer o projeto burguês dos “direitos humanos”.

Eles não são burgueses, não são cristãos, não são conservadores, não são liberais. Eles são Senhores de Engenho. E gozam com isso.

Enquanto se fartam com brioches, os sinhôs e sinhãs dizem aos pobres “agradeçam a Deus pelo vosso farelo”.”

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