Coordenador da secretaria de Políticas para Mulheres, Igualdade Racial e Direitos Humanos de SP acredita que essas práticas têm se tornado comuns pelo “aparente anonimato” e reforça que elas devem ser denunciadas
Um meme – tipo de linguagem comum no Facebook que, normalmente, expressa uma opinião com humor – convoca ao boicote de médicos cotistas. Na imagem, publicada na semana passada na rede social, uma mulher branca questiona a competência de um médico negro, pois ele poderia ter acessado a universidade pelo sistema de cotas.
Mais do que manifestar posição contrária ao mecanismo de ação afirmativa, a imagem expressa racismo e deve ser denunciada. A opinião é do coordenador da Secretaria de Estado de Políticas para as Mulheres, Igualdade Racial e Direitos Humanos (Semidh), Carlos Alberto Santos de Paulo.
Para ele, a expansão do racismo nas redes sociais deve-se ao “aparente anonimato” e à insatisfação com essa política. “O Estado assumiu o compromisso de buscar equalizar as oportunidades historicamente obstruídas. E, nesse sentido, a reação é natural, sobretudo, porque se está tirando um privilégio que até então não fora questionado”, declarou.
O meme já foi retirado da página “Sou fã do Levy desde quando ele disse que aparelho excretor não reproduz”, mas permanecem outras postagens contrárias ao sistema de cotas. A página em si faz referência a uma declaração do então candidato a presidência da República pelo PRTB, Levy Fidelix, muito criticada no ano passado por ser considerada homofóbica.
O coordenador da Semidh orienta os ofendidos a denunciarem esse tipo de atitude no próprio Facebook, usando a hashtag #HumanizaRedes, uma iniciativa do governo federal, que busca garantir mais segurança na rede e enfrentar as violações aos direitos humanos no ambiente virtual.
Ele disse ainda que o indivíduo que se sentir ofendido pode procurar diretamente a Polícia Civil. O coordenador avalia, entretanto, que os órgãos de segurança não estão suficientemente preparados para acolher esse tipo de demanda, podendo “descaracterizar e desqualificar a ofensa”
“As instituições de segurança pública não estão preparadas objetivamente para recepcionar essa demanda, temos ainda que fazer uma discussão muito séria sobre como lidar com isso”, lamenta.
O Saúde Popular faz opção de não reproduzir o meme, pois poderia contribuir com a propagação deste tipo de mensagem na internet. Confira o texto original:
Médico negro: “Olá, sou o médico que vai te atender hoje”.
Paciente: “Ih, será que dá pra confiar?”.
“Desde que inventaram as cotas, não dá mais para confiar em profissionais de cor! Recuse cotista! Boicote ao despreparo!”.