Mais um episódio da coluna “A César o que é de Cícero”, do doutor em Literatura Cícero César Sotero Batista. Desta feita, Cícero César dá as boas vindas ao Rafael, seu sobrinho que acaba de estrear neste mundão velho.
“Rafael, meu mais recente sobrinho, nasceu no dia 18 de julho de 2022. É um bebê lindão!
É delicada a forma com que as crianças reagem à chegada de mais um dos seus. O Francisco, meu filho de doze anos, ao ver pela primeira vez o seu priminho recém-nascido me disse: “Nossa, pai, como o Rafael é pequenininho!”.
Ainda não conversei com a Cecília, minha filha de oito anos, para saber o que ela achou do Rafael. Deve ser o tipo de acontecimento que desperta na criança uma série de especulações, algumas bem científicas. Do tipo: “Como entrou?” e “Como saiu?”. Que não dê na telha da minha filha de procurar a verdade pela internet – não sei se a chegada do bebê passa no “Show da Luna”.
Pensando bem, posso ficar despreocupado com isso. O que minha filha quer é ser criança, aproveitar o tempo dela da melhor maneira possível, isto é, brincando. Modéstia à parte, ela está certíssima.
Voltando à declaração do Chico, não chegamos a conversar a fundo sobre o assunto, pois ontem foi dia de futebol na quadra e na tevê. Chico fez gol, deu passes que demonstram visão de jogo e tal. Além disso, o Fluminense ganhou uma partida difícil.
Quando chegamos ao nosso lar, já era tarde para assar a pizza que comprei para os dois filhotes. Eu mesmo não posso nem quero comer pizza nunca mais, mas isso não vem ao caso agora.
Explico-me, tentando unir os fios soltos: era a noite da minha mulher ficar de plantão para cuidar do Rafael e da mãe do Rafael, que é sua irmã. Daqui a pouco volto a este ponto.
A palavra “pequenininho” traz à lembrança o quanto nós, seres humanos, nascemos prematuramente. Um bebê, mesmo sendo forte feito um tamanduá, é mais indefeso que qualquer outro animal. Precisa de atenção, de cuidado, de conversa, em suma de amor, para se tornar ao longo da vida menos pequenininho, isto é, cada vez mais autônomo, independente.
A mãe também precisa de cuidados, por óbvio. Antigamente ouvia-se em situações como essa a bela expressão “de resguardo”. Era o período em que a mulher, depois do parto, ficava acamada ou de repouso. Não nego que algumas mulheres não tenham como ficar de resguardo, por inúmeras razões; outras não querem, por estarem se sentindo bem o suficiente. Muita coisa depende do caso a caso, por óbvio. Contudo. Resguardo e caldo de galinha não fazem mal a ninguém.
Não nos esqueçamos que são muitas as expectativas, que vem a calhar uma rede de apoio, que todo mundo já foi neném.
Resguardadas as devidas diferenças, homem moderno como julgo ser, eu sei trocar fraldas, hein! E se a fralda não ficar boa, basta trocar o trocador de fraldas, ora essa! Cocô e xixi escorrendo é sinal de abundância, é o maior presente que o bebê pode agora dar ao mundo.
Jamais confundi Hipoglós com pasta de dente! Jamais. Limpar a dobrinha com Higiporo é comigo mesmo. Sei preparar Aptamil que é uma beleza. Agora que uso óculos de leitura, consigo ler até as promoções escritas nos rótulos. E para as demais coisas, a Galinha Pintadinha está aí para o que der e vier.
Seja bem-vindo, Rafael, Rafaelito. Tenha certeza que você está em boas mãos.”
Sobre o autor
Radicado em Nilópolis, município do Rio de Janeiro, Cícero César Sotero Batista é doutor, mestre e especialista na área da literatura. É casado com Layla Warrak, com quem tem dois filhos, o Francisco e a Cecília, a quem se dedica em tempo integral e um pouco mais, se algum dos dois cair da/e cama.
Ou seja, Cícero César é professor, escritor e pai de dois, não exatamente nessa ordem. É autor do petisco Cartas para Francisco: uma cartografia dos afetos (Kazuá, 2019) e está preparando um livro sobre as letras e as crônicas que Aldir Blanc produziu na década de 1970.