“Entre o milho e a vingança, cada um fazia a sua escolha. Alguns, para sua vergonha, escolhiam o milho; outros, ao contrário, a vingança.” (Abril Despedaçado – Ismail Kadare)

Kelmendi,Campeã Olímpica de judô e heroína de Kosovo.
Kelmendi,Campeã Olímpica de judô e heroína de Kosovo.
Rafaela , Campeã olímpica de Judô e heroína do Brasil
Rafaela , Campeã olímpica de Judô e heroína do Brasil

Em 2002, Walter Sales trouxe ao cinema a obra, Abril despedaçado, do escritor albanês, Ismail Kadare, na magistral adaptação feita pelo cineasta e roteirista cearense, Karim Aïnouz. Ele trouxe para o sertão nordestino, a incrível história das lutas de sangue, honra e vingança, no árido e violento destino de famílias que vão se impondo pela força, num código brutal de vida e morte, que remota aos tempos homéricos do balcãs, mas tão presente no sertão do nordeste.

Esta semana esses dois mundos voltaram a dialogar. Majlinda Kelmendi (Kosovo, antes Albânia) e Rafaela Silva (Brasileira da Cidade de Deus – Rio de Janeiro), são minhas duas heroínas, nesse início dos jogos olímpicos, realizados sob enorme desconfiança no Rio de Janeiro, trazidos para cá pela marcante presença política que o Brasil ocupou no mundo durante o mandato do Presidente Lula.




Rafaela e Kelmendi, trazem aos jogos, não apenas a beleza do combate no judô, em que ambas são campeãs de suas categorias (Leve e Meio-Leve), mas principalmente a marca de seus povos, ainda que distantes, tão próximos em tragédias e lutas. A afirmação dessas duas mulheres que carregam mais forte o seu simbolismo, suas origens humildes, em cenários de guerras e desesperança.

As coincidências são enormes, ambas campeãs do mundo em 2013, no Rio de Janeiro, também foram derrotadas nos jogos olímpicos de Londres, na segunda rodada. Rafaela sofreu enorme ataque nas redes sociais com conotação racista e sexista, quase desistiu de tudo pela decepção e depressão. Kelmendi abraçou a causa separatista de Kosovo, arriscou sua carreira e o perigo de tão grande empreitada.

A imagem de vencedora e heroísmo são conferidas nas palavras tanto de uma, quanto da outra:

Esta medalha significa muito para mim e para meu país. É um momento histórico, não só pelo esporte, mas também pelo que significa para oKosovo como país. Trabalhei duro por quatro anos para este dia e para este momento. Estava tão feliz quando subi ao pódio! (…). É um sonho que se tornou realidade”, disse Kelmendi.

“Eu treinei muito, não queria mais aquele sofrimento de Londres. Depois da minha derrota, muita gente me criticou, disse que judô não era para mim e que eu era uma vergonha para a minha família. Agora eu sou campeã olímpica dentro da minha casa (…). Eu treinei muito para estar aqui, muito para buscar a minha medalha”. Pontuou Rafaela

A superação, a garra e a enorme força interior fez dessas belas meninas, mulheres, heroínas de seus países, orgulho de seus povos, exemplo para o mundo.

Foto: Roberto Castro/ Brasil2016