Por Luiz Azenha, jornalista –
Depois de mais de 15 anos em Nova York, nos anos 90, uma vez fui no meu analista e contei que tinha vindo ao Brasil fazer uma transmissão de Fórmula Indy no Rio de Janeiro e nunca tinha me sentido tão à vontade. Leve. Seguro. Ele, num raro insight de gringo: são suas raízes, meu caro! Felizmente, pouco tempo depois, estava de volta ao Brasil.
Doutra feita, nos tempos da Globo e do SBT, viajando por países muçulmanos — eu, que sou agnóstico e gosto muito do aspecto histórico de todas as religiões — me sentia super bem nas madrugadas, quando ouvia o canto dos muezzins ecoando nas ruas de Amã, Bagdá e Casablanca. A “umma”, comunidade dos muçulmanos, integra práticas religiosas ao dia-a-dia e nos dá uma sensação muito confortável de — para usar uma palavra da moda — compartilhamento, cumplicidade.
Identifiquei este bem-estar com a origem da família de meu pai, que migrou de algum lugar do Oriente Médio — é certamente semita, talvez do Líbano, talvez de Israel — pelo norte da África até se tornar cristã nova em Portugal. Curiosamente, minha filha mais velha sempre sentiu uma atração atávica pelo Oriente. Vai explicar!
Mais recentemente, meus amigos não entenderam quando troquei uma viagem a Taiwan por outra, ao Acre. Já havia feito um pedido anterior a meu chefe, de que gostaria de trabalhar na periferia de São Paulo, mas agora radicalizei. Eu me sinto bem, de verdade, bem comigo mesmo, trabalhando no interior do Piauí, no norte de Minas, nos lugares mais remotos — do ponto-de-vista de um paulista — do Maranhão, da Bahia, de Pernambuco ou do Ceará, para citar apenas alguns lugares. É bem mais que fazer o circuito livresco de seguir as pegadas do Guimarães Rosa ou do Euclides da Cunha, que muitos colegas jornalistas fizeram.
É fugir do Brasil imaginário do eixo Rio-São Paulo-Brasília, em minha opinião prisioneiro de certezas importadas, que vê o Brasil pelas lentes que vão das teorias do Gobineau aos traços de Debret.
Não, não estou idealizando, já que o tipo de reportagem que faço revela tanto o caráter solidário quanto o perverso de nossos “interiores”. Mas, sei lá, sinto que há verdade por lá. De onde nasceram planos futuros. Um dia junto minhas coisas e vou morar em Carolina, no Maranhão. Tô achando que é onde eu queria chegar quando olhava as majestosas locomotivas vermelhas da Estrada de Ferro Noroeste do Brasil em Bauru e sonhava em sair por aí.