Raoni: o chamado do cacique em sua missão de paz

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Minidocumentário mostra que preservar as terras indígenas é crucial para garantir a sobrevivência do planeta

Por Liana Melo, compartilhado de Projeto Colabora




na foto: Raoni no Museu do Amanhã, na Semana do Meio Ambiente. Foto de Albert Andrade

Aos 92 anos, o cacique Raoni não quer briga. Desde que puxou a orelha do ex-ministro do Interior Mário Andreazza, lá pelos idos dos anos 1980, quando liderava a luta pela demarcação da terra de seu povo, a maior autoridade indígena brasileira e uma das mais reconhecidas internacionalmente não aparece mais em público armado e nem pintado para a guerra.

Todas as vezes que deixa a Terra Indígena Capoto Jarina, onde vive às margens do Rio Xingu, no Mato Grosso, circula em missão de paz.  Em suas aparições públicas, usa seu inconfundível cocar de penas amarelas, um colar caiapó e, obviamente, o inseparável ornamento no lábio inferior, o botoque. Apesar de ter aprendido português com os irmãos Villas-Boas, Raoni faz questão de, em público, falar na sua língua. Seu neto Beptuk Metuktire costuma acompanhá-lo nas viagens, fazendo a tradução.

Raoni no Museu do Amanhã
Raoni doou para o Museu do Amanhã uma réplica do cocar que usou na visita do cantor Sting. (Foto: Albert Andrade)

Na Semana do Meio Ambiente, Raoni esteve no Museu do Amanhã, no centro do Rio de Janeiro, para lançar o minidocumentário “O chamado do cacique: herança, terra e futuro”. O filme é uma celebração a sua jornada de luta. “Não vou desistir e vou continuar lutando até quando o meu corpo resistir”, já avisou Raoni Metuktire, líder da etnia Kayapó, em diferentes oportunidades. O cocar que usou na turnê que fez com o cantor Sting, em 1989, foi vendido para Instituto de Desenvolvimento e Gestão (IDG), órgão que faz a gestão do museu, mas, antes do início da apresentação do filme, Raoni entregou uma réplica do acessório indígena ao diretor-geral do IDG, Ricardo Piquet.

O filme de Lucas Ramos é uma prova da sua resistência. Gravado em julho de 2023, na aldeia Piaraçú, no Mato Grosso, quando o cacique se reuniu com representes de diferentes povos indígenas em prol do futuro do planeta, ficou claro que Raoni se mantém na defesa da sobrevivência dos povos indígenas.

https://youtube.com/watch?v=P631mVDXRog%3Ffeature%3Doembed

“Por tudo que cacique Raoni viu nessas nove décadas de vida, ele estaria no direito de ser revoltado, mas, há bastante tempo, ele vem falando exatamente o contrário. Tem tido,  vamos esquecer o passado e olhar para o futuro”, comenta Paulo Moutinho, pesquisador sênior do Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (Ipam), instituição que patrocinou o documentário junto com o Instituto Raoni.

Preservar as terras indígenas não significa apenas proteger os direitos desses povos, o que está prevista na Constituição. É, sobretudo, garantir “a sobrevivência do planeta”, salienta Moutinho. Cerca de 100 a 150 bilhões de toneladas de carbono estão armazenados na floresta Amazônica, o equivalente a emissão global de gases de efeito estufa que deixou ser emitido em uma década. “Esse volume está preservado dentro da floresta pelo esforço de grande parte dos povos indígenas, dos quilombolas, dos extrativistas…”, comenta.

Destaque na produção de algodão, milho e soja no Mato Grosso, estado onde vive Raoni, o agronegócio deveria rever sua posição. Muitos empresários do setor costumam defender a falsa ideia de que “é muita terra para pouco índio”. Mal sabem eles, explica Moutinho, que o maior investimento do negócio deveria ser justamente a preservação das terras indígenas, porque são os povos originários, ao protegerem a floresta, que garantem “o ar condicionado do planeta”.

“Os povos originários mantêm uma relação íntima com seus territórios e são essenciais para que o país e o mundo se adaptem às mudanças climáticas. Eles estão dispostos a contribuir com a solução”, analisa Ramos, diretor do documentário.

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