Por René Ruschel, jornalista
Messias, o ex-capitão que um dia sonhou com o trono perpétuo, admitiu em depoimento ao STF que se reuniu com os comandantes das Forças Armadas para discutir “alternativas”, eufemismo elegante para golpe de Estado, que pudessem questionar o resultado das eleições de 2022.
Confirmou ter apresentado a famosa minuta do golpe ao general Freire Gomes, à época comandante do Exército. Mas ressaltou que não havia “clima” para sua consecução.
Convenhamos, isso foi praticamente uma confissão com legenda: “Sim, tentei dar um golpe, mas o ambiente estava meio pesado.”
Na democracia, o combinado é simples: quem perde, aceita o resultado, arruma as malas e tenta outra vez. Quem tem dúvidas, recorre à Justiça Eleitoral e não às baionetas.
Mas o que realmente espanta, ou diverte, para quem aprecia tragédias farsescas, é a naturalidade com que tudo foi tratado. Os envolvidos falam com a tranquilidade de quem comenta o cardápio do almoço. Confessam reuniões, esboços de rupturas institucionais, intenções explícitas de rasgar a Constituição, mas tudo sob o tom de “só estávamos pensando alto, sabe como é…”.
Quando confrontado com os manifestantes acampados em frente aos quartéis, Messias, com o típico desprendimento de quem jogou a pedra e escondeu a mão, os chamou de “malucos”. Sim, os mesmos que passaram semanas acampadas pedindo intervenção militar e jurando fidelidade ao líder foram desautorizados por ele próprio. Que fase!.
Faltaram só dois detalhes para completar o teatro dos horrores. Palmas ao final do depoimento e uma placa na porta do QG dizendo “Golpe adiado por falta de adesão”.
Caso isso não seja tentativa de golpe, talvez a gente precise mesmo rever o significado da palavra “golpe”. Ou então assumir que, no Brasil, o surreal já virou o novo normal.
Foto: Antonio Augusto/STF