Por Helenice Rocha, professora, psicanalista, Facebook
É impressionante a quantidade de pessoas que tem se comportado nas redes sociais como aqueles “ratinhos de laboratório”.
Estes pequenos animais, quando condicionados a pressionarem uma “barrinha” de ferro para terem água liberada, passam a correr pra ela também caso ouçam o seu som.
Nos dias que correm, certos comportamentos humanos são idênticos a estes dos ratinhos. Senão, vejamos.
Para uma parte da população, ouvir as expressões “sem teto, sem terra, ocupação”, dispara nela uma espécie de comportamento atávico que a faz correr e apertar sua barrinha no celular pra escrever: preguiçosos, vagabundos, bandidos, facção criminosa, PT, etc.
Ou ainda, ao ouvir “movimento social, direitos humanos, políticas públicas”, voltam à barrinha, desta vez pra digitar: comunista, Lei Rouanet, aqui não é a Venezuela, etc.
Parece piada mas não é. A maioria, pra não correr o risco de errar dizendo que é a totalidade, não sabe e não quer saber nada sobre qualquer uma destas coisas.
Não sabe e não quer saber sobre déficit habitacional, sobre reforma agrária e principalmente sobre o artigo 6o da constituição, mas acha lindo o resultado destas políticas em outros países que visita ou sonha visitar.
Não sabe que lá, onde tira suas fotos cafonas, ela não tromba com os “sem teto e com os sem terra” porque estes são amparados pelo governo. Sim, lá eles “ganham” teto e terra. Mas estes cidadãos não sabem e não querem saber nada sobre isto.
A maioria também não sabe e não quer saber que “direitos humanos” não é “um pessoal”. Direitos humanos é um conjunto de proposições declarativas, que permite, inclusive, que todos eles apertem suas barrinhas. Sobre políticas públicas também não sabem. E não querem saber.
Sabem apenas invejar outros povos que vivem dignamente porque…(pasmem!) vivem em países onde há políticas públicas, programas similares ao “minha casa minha vida”, “bolsa família ” e outros tantos.
Mas os cidadãos da barrinha acham lindo comprar seus “souvenirs” bregas em países onde não há desdentados e crianças remelentas nos faróis. Só não sabem que as crianças de lá têm escola de qualidade graças a tudo aquilo que ele entende aqui como “dar o peixe ao invés de ensinar a pescar”, assim como não sabem que se não há desdentados por lá , é porque a saúde, pública e de qualidade, existe. Mas os cidadãos da barrinha só conseguem achar que o SUS deve acabar, afinal, ele não funciona e chic mesmo é ter um convênio caro e frequentar o “Albert Einstein”.
Este comportamento está ficando tão sério que quando você interpela uma criatura destas e questiona a veracidade do que estão propagando, a barrinha dispara novamente e lá vem: comunista, direitos humanos, minha bandeira não será vermelha, viva o Sergio Moro…
Não fosse este um comportamento de massa perigoso, poderíamos nos abster nas conversas. Acontece que quando estes grupos começam a agir como verdadeiras hordas, é preciso atenção.
Quando criminalizam os miseráveis ao invés da miséria e os mortos ao invés do matador, quando a compaixão cede lugar ao ódio, é porque estamos no limite entre a civilização e a barbárie.
Não nos iludamos. Assim como muitos não sabem a diferença entre direitos humanos e “defesa de bandidos”, também não sabem a diferença entre civilização e barbárie.
Levemos diariamente nos bolsos muita informação e paciência. Será preciso muita disposição para o trabalho de restituição de um campo de diálogo e aprendizagem onde nos salvemos, todos.