Por Camilo Vannuchi, jornalista, no Facebook –
Vi Dois Papas. Achei muito bom. E, diferentemente do que li na Folha dias atrás, saí com a sensação de que o papa poupado no filme é Ratzinger. Há longos minutos dedicados a narrar o comportamento colaboracionista de Bergoglio com a ditadura argentina. E todo um capítulo sobre culpa e arrependimento, processo que culmina com a guinada social empreendida pelo jesuíta a caminho do episcopado. Quanto a Ratzinger, nenhum flash back, nenhuma declaração de arrependimento ou vergonha, sequer no caso do suposto acobertamento, por ele, de abusos sexuais praticados por religiosos jamais julgados. Há a renúncia, é claro, e a sugestão de que tenha sido motivada pela percepção da própria incompetência no cargo. Mas nada além disso, nenhuma cena sobre sua atitude perante ditadores ou vítimas de violações de direitos humanos, nenhum mea culpa sobre seu pensamento a cerca do divórcio ou da homossexualidade, nenhuma cena sobre sua experiência à frente da Congregação para a Doutrina da Fé, prototribunal da inquisição responsável pelo afastamento de Leonardo Boff e outros padres progressistas ao longo dos anos 1980.
Mais uma vez, cobra-se autocrítica dos líderes mais comumente identificados com a esquerda. Dos conservadores encastelados, não se cobra nada.