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Peronista voltou ao antigo emprego como professor de Direito Penal para encerrar o ano letivo
O Globo e Reuters
BUENOS AIRES — O novo presidente da Argentina, Alberto Fernández, trocou de ocupação por algumas horas nesta sexta-feira, voltando a seu antigo emprego como professor universitário para supervisionar as provas finais de seus alunos. Antes de sua posse, na terça-feira, o peronista lecionava a disciplina de Direito Penal na Universidade de Buenos Aires.
A segurança foi reforçada nos corredores antes de Fernández, de 60 anos, chegar de carro. Trajando terno e gravata, ele sentou-se pacientemente na frente da turma enquanto seus alunos faziam a prova. Depois, todos posaram para uma foto em grupo.
— Ele não é mais um candidato a presidente, ele é o presidente na nação. Isso é histórico. Isso nunca mais irá acontecer na minha vida — disse Nadina Tatiana Pasanini, uma das alunas.
Fernández, pouco conhecido no país até o começo deste ano, manteve suas atividades acadêmicas durante a campanha presidencial, que terminou com sua vitória, em 27 de outubro, sobre o então presidente Mauricio Macri, que tentava a reeleição para segundo mandato.
Em uma publicação em sua conta no Twitter, o presidente publicou uma foto do momento e defendeu a educação pública gratuita.
“Não quis deixar de vir hoje à Faculdade de Direito da UBA para aplicar provas finais aos meus alunos e alunas de Direito Penal. A educação pública gratuita é um dos valores mais importantes que temos. Vamos defendê-la com o exemplo e com os recursos que ela merece”, escreveu.
Uma aluna, aprovada por Fernández com uma nota ligeiramente acima da média, teceu elogios.
— Como professor é divino: superdidático, muito tranquilo, muito bom professor — disse a jovem, que se identificou apenas como Marina.
Calmo e formal
Em setembro, Fernández viajou a Madri para lecionar em uma universidade, um compromisso que disse ter marcado antes de anunciar sua candidatura. Ele continuou supervisionando provas até outubro, quando as eleições presidenciais aconteceram.
Ao longo da campanha à Presidência, outros aspectos da vida do político, definido por pessoas próximas como calmo e formal, foram revelados. O bigode, uma marca registrada há décadas, surgiu como uma homenagem ao pioneiro do rock argentino lito Nebbia, com quem Fernández aprendeu a tocar violão. Já o cachorro do presidente se chama Dylan, em homenagem ao lendário músico Bob Dylan.
O peronista também dirigiu seu próprio carro, um Toyota sedã prateado, para sua posse, acenando da janela do motorista para as multidões que tomaram as ruas.
Embora esses primeiros dias tenham sido mais tranquilos, o presidente espera semanas agitadas pela frente, conforme se prepara para tentar tirar a Argentina de uma severa crise financeira, que inclui dívidas que precisam ser renegociadas. Já na próxima segunda-feira, o novo governo enviará três projetos à Câmara dos Deputados, declarando emergência econômica, social e sanitária.
Embora ainda não sejam conhecidos detalhes sobre o conteúdo da emergência econômica, estima-se que a iniciativa conceda poderes extraordinários ao Poder Executivo em questões tributárias e tarifárias.
A inflação herdada pelo governo anterior irá superar 50% neste ano e a pobreza alcança 40% dos argentinos.