Por Ítalo Rocha Leitão, jornalista
1966 ficou marcado para sempre na vida de um jovem recifense de 23 anos, morador do bairro de Campo Grande. Seu sonho era ser compositor. E fez uma música para inscrevê-la num concurso que a Prefeitura do Recife abriu pra escolher uma composição em homenagem à capital pernambucana. Mas, por uma infeliz coincidência, uma cheia atingiu o Recife e as inscrições foram suspensas. Para superar a frustração, o pretenso compositor viajou pra casa de parentes, no Rio.
Aqui, no Recife, passada a fúria das águas do Capibaribe, o concurso voltou a valer. Na bolsa de apostas, alguns favoritos ocupavam o topo da lista: Capiba, Nelson Ferreira, Ariano Suassuna e Aldemar Paiva.
O jovem de Campo Grande só ficou sabendo da reabertura das inscrições na véspera do encerramento. Correu pro Aeroporto Santos Dumont, na área central do Rio. Saiu perguntando pelo saguão: “Por favor, quem aqui vai pro Recife?”. Ninguém respondia.
Até que, por um acaso, e o acaso é Deus – como diria Fernando Pessoa -, uma senhora respondeu afirmativamente. As pernas do neófito compositor começaram a tremer. E o coração ameaçava sair pela boca.A senhora mora onde lá no Recife? Eu moro em Campo Grande. Que Coincidência! A senhora pode levar esse envelope pra uma pessoa que mora na rua do Clube das Pás? Posso, claro!, minha casa fica na rua ao lado.
Mal sabia aquela anônima senhora que naquele momento iria cruzar os céus do Brasil levando na bagagem a música que ganhou aquele concurso e que, passados 57 anos, ainda hoje faz sucesso: “Recife Manhã de Sol” – que ficou conhecida em todo o país na voz de Maria Betânia.
Aquele jovem fez 80 anos no último dia 4 de fevereiro/2023, é autor de outros inúmeros sucessos do Carnaval pernambucano e se chama Jota Michiles – o que não precisa dizer mais nada!!!