“Se essas perdas são recuperáveis é algo que ainda não sabemos”, alerta pesquisador da USP. Nesta segunda (7), o Brasil registrou 428 óbitos e mais de 66 mil novos casos de Covid-19
Por Tiago Pereira, da RBA, compartilhado do Portal da CUT
Pesquisadores da Universidade de São Paulo (USP) identificaram danos cognitivos e transtornos psiquiátricos de longo prazo em pacientes que se recuperaram da Covid-19.
Mais da metade dos pacientes (51,1%) relatou ter problemas de memória após a infecção. Outros 13,6% desenvolveram transtorno de estresse pós-traumático. Além disso, 15,5% apresentaram transtorno de ansiedade generalizada, sendo que em 8,14% deles o problema surgiu após a doença. A depressão também afetou 8% dos pacientes. Destes, 2,5% apresentaram os sintomas ligados ao transtorno somente após a internação.
A pesquisa completa foi publicada nesta segunda-feira (7) na revista General Hospital Psychiatry. O estudo foi feito com 425 pacientes que se recuperaram das formas moderada e grave da Covid-19, avaliados no Hospital das Clínicas, na capital paulista, entre seis e nove meses após a alta hospitalar.
“Um dos principais achados é que nenhuma das alterações cognitivas ou psiquiátricas observadas nesses pacientes se correlaciona com a gravidade do quadro”, disse o médico Rodolfo Damiano, em entrevista à Agência Fapesp.
Os participantes se submeteram a uma bateria de testes cognitivos para avaliação de habilidades como memória, atenção, fluência verbal e orientação espaço-temporal. Em média, 26,8% da população brasileira sofre com esses transtornos mentais. No grupo estudado, esse índice subiu para 32,2%.
Efeitos
“Observamos bastante perda cognitiva. Em um teste que mede a velocidade de processamento, por exemplo, os pacientes demoravam em média duas vezes mais do que o esperado para a idade”, disse o pesquisador. “E isso foi observado para todas as idades”, conta Damiano. “Além disso, mais da metade relatou, de forma subjetiva, um declínio na memória.”
Nesse sentido, a prevalência de transtorno de ansiedade generalizada (14,1%) foi consideravelmente maior do que a média dos brasileiros (9,9%). Da mesma forma para a depressão, com o dobro da média registrada em pacientes que participaram do estudo. “Se essas perdas são recuperáveis é algo que ainda não sabemos”, alertou.
De acordo com o pesquisador, o agravamento de sintomas psiquiátricos após infecções agudas é algo comum e esperado. No entanto, com nenhuma outra doença viral “se observou tanta diferença e perdas cognitivas tão significativas”. Uma das explicações, segundo ele, é o próprio efeito do vírus no sistema nervoso central”, comenta.
Números da Covid no Brasil
Também nesta segunda (7), as autoridades sanitárias registraram 66.583 novos casos de Covid em todo o país. Assim, a média móvel de diagnósticos ficou em 167.550 casos por dia na semana, pouco abaixo do recorde da última quinta (3).
Em 24 horas, 428 óbitos pela doença foram registrados, também com queda em relação aos números da última semana. No entanto, em função da alta nos últimos dias, a média diária de óbitos chegou a 783, a maior desde meados de agosto.
Por outro lado, ao longo da pandemia as segundas-feiras apresentam números menores, por conta dos dados represados durante o fim de semana.
Conforme o Conselho Nacional de Secretários de Saúde (Conass), o país tem mais de 632 mil mortes pela covid-19 e chegou a os 26,6 milhões de casos.