Por Adriana do Amaral, jornalista
Vou avisando, logo na primeira linha, aos que vão me criticar: eu não entendo nada de futebol. Mas, ao ler as notícias sobre o jogador do Red Bull Bragantino, emprestado pelo Palmeiras, me deu uma tristeza infinda.
Ele errou. E muito. Dirigiu embriagado- sem habilitação (com a carteira de motorista provisória suspensa) e causou o acidente que matou um pai de família. Ironicamente um torcedor do Palmeiras e que deve ter vibrado com os lances do zagueiro Renan.
Nesse Brasil onde impera a ilusão de que podemos passar impunes pelo mal que fazermos, um jovem de 20 anos foi preso e liberado após o pagamento de fiança, e a família de outro jovem, Eliezer Pena, 38, chora a dor do luto. Tudo errado.
A ilusão do futebol da fama, dinheiro, carrões, mulheres, farra e impunidade são determinantes como as linhas do campo. Se a meta é o gol, ou no caso de Renan evitá-lo, na vida real o prêmio é o dinheiro, o status e a sensação que a fama tudo permite. O jogador reproduziu este modelo.
O que me assusta, no entanto, é o posicionamento das duas equipes. Red Bull Bragantino e Palmeiras afirmaram que não querem mais o jogador em suas equipes. Curiosamente, uma delas patrocinada por uma marca de bebida energética. A mesma que tem como slogan que beber dá asas…
Eu acredito que as duas marcas poderiam gerir a crise causada pelo impacto da negligência e da morte acolhendo a família da vítima e, ao mesmo tempo, o motorista. Investir na recuperação do jovem jogador e gerar o debate e a reflexão sobre o abuso do álcool.
Sabemos que um jovem de 20 anos, principalmente alguém que viu a sua vida se transformar com a fama que o futebol permite, terá sua vida marcada pela tragédia e talvez nunca mais possa voltar ao campo. Como recomeçar após matar alguém e ser julgado por todos?
Renan terá que prestar contas à Justiça, muito possivelmente arcar com uma dívida financeira indenizando a família. Ele não poderá deixar o país, terá a sua liberdade cerceada.
Acredito, porém, que ele ainda poderia ser útil à sociedade trabalhando, e não sendo descartado. Talvez, além das obrigações legais, pudesse ter uma pena alternativa de prestação de serviços, quem sabe ensinando futebol em escolinhas e continuar treinando sem jogar e se submetendo à desintoxicação…
Mas o trabalhador, glamourizado ou não, é mercadoria ou número. Quantos Renan (s) sucumbem à fama ou em busca dela? Quantos jovens brasileiros viverão sem futuro no Brasil sem medir consequências em busca de sonhos? Quantos foram mortos, assassinados, atropelados pela vida ou por outros jovens sem futuro?
Foto: Celso Ricardo/Jornal de Bragança