Por Washington Luiz de Araújo, jornalista –
A piada é antiga, mas como mais antiga é esta mania das oligarquias, dentre elas a Rede Globo, de patrocinar golpes, vamos lá. O sujeito se apresenta ao médico e diz que estava andando pelo mato de sua fazenda quando escorregou e um toco penetrou lá… naquele lugar. No cunha. O médico, experimentado, pede para a suposta vítima do toco tirar a roupa e ficar na posição cata-cavaco. Com uma lupa, o doutor examina o local atingido e lasca o diagnóstico: “Não foi toco”.
A vítima do “toco” esperneia, diz que não é mentiroso, que o médico o conhece há muito tempo, que sabe o cunha que tem, e que, se ele tá falando que foi toco, é porque foi toco. O médico, calmo, responde que entende a posição do distinto paciente, mas insiste, do alto da sua experiência, que não foi toco.
A discussão vai aumentando e, com o tempo exíguo como sempre para consultas, o doutor arremata: “Olha, meu amigo. Aqui tem um remédio para toco. Então como o senhor insiste que foi toco, tome estes comprimidos, um a cada três vezes ao dia”.
Já vestindo a roupa, satisfeito em ter convencido o médico de que foi toco, o paciente ouve um alerta, em relação ao qual ele deve temer: “Só tem uma coisinha: se não for toco e o senhor tomar este remédio, o senhor morre. Mas tenho aqui um outro remédio no caso de não ter sido toco, e quanto a esse o senhor não precisa temer por sua vida”.
Já nem um pouco paciente, o sujeito pega o remédio para não toco e encerra a conversa: “Vou tomar este medicamento para não toco, mas que foi toco, foi toco!!!”
Conto a piadinha manjada só para lembrar dessa história dos golpistas, incluídos aí parlamentares, vice-presidente da República, velha mídia, membros do STF e demais, que, mesmo na posição de cata-cavaco, continuam insistindo que não há um golpe em andamento no Brasil.
Vou me ater aqui à Rede Globo de Televisão e afiliados, que insistem na tese do “não é golpe”. A Globo levou mais de 30 anos para reconhecer que participou do golpe de 1964. Aliás, seu jornal “O Globo” esteve na linha de frente, na origem da conspiração e na consecução dela; já a emissora de TV só participou da ditadura partir de 1965 – pelo simples fato de ter sido criada naquele ano, sob os auspícios dos militares.
A impressão que se tem é que, com esse reconhecimento, ocorrido somente em 31 de agosto de 2013, as instituições criadas por Roberto Marinho tentaram tirar o peso das costas para colocar outro: o golpe de abril de 2016. Desta vez, emissora de TV, jornal e rádios do conglomerado, todos eles, participam do golpe, diuturnamente.
Por falar nisso, um passarinho me contou que a família Marinho orientou, recentemente, todos os diretores de jornalismo da rede no Brasil a reforçarem a posição de que “não é golpe”. A orientação, que na verdade é uma ordem, foi de que os dirigentes convocassem todos os subordinados para dizer que o “é golpe” não pode prosperar na sociedade e que ninguém arrede os pés dessa convicção.
Ao contrário do remédio que tomou durante a ditadura militar, que foi o apoio incondicional dos milicos, a Globo desta vez está no dilema: toma o medicamento para toco ou para não toco? Mas esse dilema só se torna explícito pela insistência em afirmar que não foi toco (perdão, de que não é golpe).
As ruas já entoam “Fora Rede Globo, o povo não é bobo” e “E a verdade é dura, a Rede Globo apoiou a ditadura. E continua…” Portanto, insistindo na tese de que não é golpe, as instituições Globo vão sorvendo diariamente, em vários momentos, o remédio para o “não foi toco”. O problema é que está morrendo, pois, se uma parte do povo mais antigo, acostumado a assistir e engolir os venenos cotidianamente fornecidos pela rede, ainda dá audiência, a moçada já não assiste. Jovens que não manterão o hábito de seus pais, de sintonizar a emissora, sabem que a verdade é dura, de que é golpe e a Globo vai morrer junto com a falácia do “não foi toco”. E para isso não há remédio.