Imagina um ministro da Justiça que tem sob sua responsabilidade a polícia judiciária do seu país.
Por Bepe Damasco, compartilhado de seu Blog
Foto: Divulgação PRF
Aí, entre o primeiro e o segundo turno da eleição presidencial, esse ministro, cumprindo decerto ordens de seu chefe, o presidente da República, manda mapear todos os locais onde o candidato da oposição teve mais votos na primeira volta.
Na sequência, usa o avião da força aérea do Estado e pousa em uma das unidades da federação no qual o líder oposicionista é muito popular e tem vantagem eleitoral avassaladora.
O passo seguinte é pressionar, no melhor estilo mafioso, o superintendente estadual da polícia judiciária, para que integre uma força-tarefa junto com a polícia que cuida das estradas, visando criar toda sorte de dificuldades de locomoção para os eleitores do adversário, no dia do turno final.
Todavia, demonstrando apreço por sua função pública e republicana, o comandante da polícia federal no estado se nega a pôr a instituição a serviço da bandidagem proposta.
Consciente do potencial ilimitado de delinquência do grupo extremista que está no poder, o ministro-chefe da justiça eleitoral determina, na véspera do pleito, que as autoridades de todas as esferas se abstenham de fazer blitz em estradas no dia da eleição.
Mas, como criminoso costuma fazer letra morta de decisões judiciais, a polícia rodoviária ocupa as principais estradas da região do país que concentra o maior número de eleitores do líder popular que desafia eleitoralmente o atual presidente.
Todos os carros com adesivos do candidato de oposição são parados, bem como ônibus com bandeiras vermelhas desfraldadas nas janelas, provocando um grande atraso na chegada das pessoas às urnas e impedindo que um significativo número de eleitores exerça o direito do voto.
O chefe da justiça eleitoral convoca, então, o comandante da força policial das estradas e manda parar imediatamente com os bloqueios, mas não morde a isca de estender o prazo de votação, pois isso poderia ser usado como pretexto pela campanha do candidato fascista para melar a eleição.
Esse país, claro, é o Brasil, e tudo isso aconteceu há cinco meses.
A vitória de Lula foi épica. Só quem despreza o contexto em que ela se deu pode embarcar na onda conservadora que procura desmerecer a presidência de Lula, com base na diferença pequena de votos sobre Bolsonaro.
Lula enfrentou e derrotou um Estado corrupto, que não hesitou em destroçar as contas públicas para comprar votos dos mais pobres, derramando Auxílio Brasil sem critério nem condicionantes e molhando a mão de taxistas e caminhoneiros.
Lula prevaleceu diante da máquina de fake news, mais forte até do que em 2018, e da aparelhagem delinquente de instituições do Estado brasileiro, manipuladas em prol da reeleição de Bolsonaro.
É isso.