A expulsão da professora Kervokian atendeu à solicitação de uma carta de 30 fascistas à direção da Universidade Hebraica e logo teve o protesto de 100 professores contra a arbitrariedade que, segundo os professores, suprime o direito de expressão na principal universidade israelense
Compartilhado de Hora do Povo
na foto: Professora Nadera Kervokian trabalhava nas fculdades de Direito e Assistência Social da Universidade Hebraica de Jerusalém
O reitor da Universidade Hebraica de Jerusalém, Tamir Sheafer e o presidente da universidade, Asher Cohen, em declaração conjunta, expulsaram a professora Nadera Shalhoub-Kevorkian depois que ela denunciou o genocídio perpetrado por Israel em Gaza e exigiu o cessar-fogo para parar o morticínio de civis palestinos.
A professora Kevorkian é catedrática e ministra cursos nas faculdades de Direito e Assistência Social da Universidade Hebraica.
A decisão dos diretores da Universidade Hebraica aconteceu após exigência neste sentido que partiu dos dedo-duro da organização fascista Im Tirzu (Se Quiserem, organização que, nas recentes eleições andaram intimidando candidatos de esquerda ao Knesset, parlamento israelense). A “denúncia” das posições da professora foi seguida de uma petição que conseguiu a 30 assinaturas, incluindo professores.
Assim que a medida foi anunciada, recebeu o repúdio de mais de 100 acadêmicos da Universidade, alertando que a expulsão da professora fere a liberdade de expressão e destrói o papel da Universidade enquanto centro de debates e de busca da verdade científica, uma vez que a expulsão intimida todo o quadro docente.
A professora deu as declarações que levaram à sua demissão em entrevistas à TV Canal 14 e a um podcast dos irmãos Makdisi.
As entrevistas foram motivadas por uma petição que a destemida professora encabeçou, denunciando o genocídio, exigindo o cessar-fogo imediato e a entrada humanitária de suprimentos na Faixa de Gaza, o que tem sido sabotado pelas forças israelenses. A petição de Kevorkan obteve mais de 1.000 assinaturas de acadêmicos de diversos países.
A petição pede “o fim imediato do genocídio israelense bancado pelo Ocidente e da ultrajante violação dos direitos das crianças palestinas”.
A carta se diz “um chamado que vem de dentro da Palestina e Israel por uma solução política de longo termo, cuja premissa é o fim da atual ocupação da Palestina pelo regime de apartheid de Israel” e incentiva “chamados globais pela libertação imediata das entre 500 e 700 crianças palestinas arbitrariamente detidas por Israel, assim como das crianças detidas pelo Hamás”.
“75 anos de ocupação colonial na Palestina e 17 anos nos quais Gaza se tornou algo muito próximo a uma prisão a céu aberto, produziram as mais hediondas e inimagináveis condições de vida para a população de Gaza”, finaliza o documento.
Nas entrevistas, a professora conta que acontece de judeus israelenses se mostrarem assustados quando a ouvem falar em árabe ao celular pelas ruas de Jerusalém e supõe que isso ocorre porque estas pessoas se sentem criminosas, “devem se assustar mesmo, os criminosos estão sempre assustados”.
Ela prossegue esclarecendo que o assalto a terras palestinas torna “o sionismo criminoso e por isso deve ser abolido. Não podemos continuar com isso. Só com a abolição do sionismo é que nós podemos seguir em frente”.
Ao ser perguntada sobre a suposta violência sexual do Hamás contra israelenses, ela respondeu, após recriminar qualquer tipo de violência sexual, “seja contra israelenses, seja contra palestinos”: “Eles vão usar qualquer mentira. Eles começaram com os bebês, continuam com os estupros e vão continuar com um milhão de mentiras. Nós deixamos de acreditar neles, eu espero que o mundo pare de acreditar neles”.
Logo após a petição da professora, em 29 de outubro de 2023, a direção da Universidade Hebraica de Jerusalém manifestou seu incômodo com as verdades corajosamente proferidas por ela ao lhe enviarem uma carta pedindo que ela renunciasse, ao “expressar forte condenação diante do alinhamento da professora Shalhoub-Kevorkian em uma petição caracterizando as ações de Israel em Gaza como genocidas e qualificando-o de uma força de ocupação desde 1948”. A Universidade seguiu com a solicitação à professora para que esta renunciasse, o que se negou a fazer.
Os diretores dedidiram, lamentavelmente, embarcar na forma como Netanyahu se dirige aos opositores ao ataque israelense a Gaza acusando-a de “tirar vantagem de sua condição acadêmica para o incitamento e criação de divisionismo”.
Agora, a direção diz que a Universidade “se orgulha de ser uma instituição pública e sionista” e chama a expulsão pelo nome mais leve de “suspenção” com a cínica alegação de que o faz para “garantir um ambiente seguro e de boa conduta para os estudantes no campus”. A questão da expulsão fica bem clara quando repararmos que a medida de agora foi precedida de uma “sugestão”, em outubro do ano passado, de que a professora “renunciasse”.
Já a carta dos 100 acadêmicos de Jerusalém contesta a medida destacando que discorda da posição da professora mas exige que “a direção da Universidade respeite o protocolo e o princípio básico no que diz respeito à liberdade acadêmica dos membros de sua comunidade”.
“A universidade, enquanto uma instituição de ensino superior que encoraja a discussão e o criticismo, não deve limitar a Liberdade de expressão dos membros da comunidade”, destacam ainda os professores que pedem a readmissão da professora.
A organização de professores, Academia por Igualdade, também se manifestou: “Se permitirmos que a injustiça feita à professora Nadera Shalhoub-Kevorkian passe, ninguém estará seguro. A liberdade de expressão e de pesquisa é o cerne da academia e, sem isso, ela não tem o direito de existir. A menos que a liderança da Universidade se retrate de sua vergonhosa decisão, as portas se abrem para uma obscurantista onda de opressão”.