1- A despeito do ar de desencanto e da quase displicência, Nara participou ativamente dos mais importantes movimentos musicais surgidos a partir da década de 1960 – e saiu de todos eles sem se despedir.
2- Ela foi a primeira artista de sua geração a ridicularizar a passeata contra a guitarra elétrica, liderada por Elis Regina e Geraldo Vandré e endossada por Gilberto Gil.
3- Filha de um advogado excêntrico, fez tudo que uma pré-adolescente de classe média alta carioca nos anos 1950 jamais sonhou fazer: como ir ao cinema, ao teatro e ter aulas de violão com um professor negro.
4- Ela foi uma das primeiras adolescentes do Rio a fazer análise, por necessidade e curiosidade.
5- Tratada como bibelô pelos machos alfas da bossa nova, deixou o movimento para se juntar à turma politizada do CPC e do Cinema Novo.
6- No disco de estreia, recusou-se a pegar carona no sucesso da bossa nova e gravou um disco com sambas de Cartola, Zé Kéti e Nelson Cavaquinho.
7- Apesar da decisão de dar um caráter mais político ao disco de estreia, tendo como fio condutor um gênero que estava associado diretamente às massas, ela se recusou a gravar uma letra machista de Cartola.
8- Lançado sete meses após o Golpe de 1964, “Opinião de Nara” foi o primeiro trabalho de uma estrela da MPB a colocar o dedo no nariz da ditadura. Sem rodeios, sem metáforas. Um disco-manifesto, inserido no contexto político-social e em sintonia com o que se ouvia nas favelas do Rio, marginalizadas e discriminadas pela política higienista do governador Carlos Lacerda.
9- O demolidor segundo disco serviu de inspiração para um dos mais revolucionários espetáculos musicais da história do país: o “Opinião”.
10- Foi ela, em pesquisa musical pelo Brasil, quem abriu as portas do Sudeste para os talentos do Teatro Vila Velha, Caetano, Gil, Gal e Bethânia – essa última, com 17 anos, foi convocada para substituí-la no show “Opinião”.
11- Foi a primeira estrela da MPB a falar abertamente e de forma mais contundente contra a ditadura militar, ao afirmar, em 1966, que o “Exército não servia para nada”.
12- Ao ver nascer a expressão “Esquerda Narista”, ela, que sempre rejeitou ser porta-voz de qualquer coisa, decidiu gravar, só por provocação, uma singela marchinha de um compositor iniciante, que mal abria a boca: Chico Buarque.
13- Atendendo a um pedido de Nara, Chico compôs “Com Açúcar, Com Afeto”, a primeira de muitas canções em que a mulher assume a narrativa na primeira pessoa. Preso aos preceitos machistas da época, Chico recusou-se a interpretá-la, passando a tarefa para a cantora Jane Moraes. Nara, sempre na vanguarda, achou a atitude ridícula.
14- Primeira artista da MPB a gravar no mesmo disco Ernesto Nazareth e Lamartine Babo, Villa-Lobos e Custódio Mesquita, Nara nasceu tropicalista antes do movimento existir – e ser gestado com a sua ajuda.
15- Presidente do júri da polêmica e histórica edição do FIC 1972, o festival que revelou Raul Seixas, Sérgio Sampaio e Walter Franco, pediu demissão por não aceitar a ingerência dos militares.
16- Cansada de tudo e de todos, decidiu dar um tempo, no auge da carreira: “Uma hora eu sou a musa da bossa nova, outra a cantora de protesto e ainda tem essa coisa ridícula do joelho. Então me recuso a virar um sabonete e vou dar uma parada”.
17- Decidida a estudar Psicologia na PUC, por um bom tempo não foi reconhecida pelos colegas de classe, dez anos mais novos.
18- De volta aos estúdios, decidiu gravar um disco inteiramente dedicado ao cancioneiro de Roberto e Erasmo, ainda vistos como artistas menores por alguns medalhões da MPB.
19- No fim da década de 1970, rodou o país numa perua kombi, fazendo shows nos rincões do Brasil, ao lado de uma nova e renovadora turma do choro carioca, entre eles o violonista Raphael Rabello, de 15 anos.
20-Diagnosticada com um tumor no cérebro, que lhe impôs uma série de complicações, nunca deixou de produzir compulsivamente, gravando praticamente um disco autoral por ano.
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