Por Washington Luiz de Araújo, jornalista –
“Gostaria que os senhores testemunhassem que estou desinfetando esta poltrona porque nádegas indevidas a usaram”. Com estas palavras, em 2 de janeiro de 1985, o prefeito Janio Quadros iniciava seu primeiro dia de trabalho à frente do Executivo Municipal de São Paulo. As “nádegas indevidas” eram as de Fernando Henrique Cardoso, que, durante a campanha, sentara-se na cadeira do então prefeito Mário Covas, com a certeza de que já tinha abocanhado as eleições municipais. Coube ao sempre folclórico Janio Quadros dar o troco, desinfetando a cadeira como legítimo prefeito eleito nas urnas e não pelos números do DataFolha, que iniciava naquela época sua vida de acertos e erros. Erros escandalosos como quando deu FHC eleito com 4% à frente de Janio. Recordei-me daquela época nada honrosa para Fernando Henrique Cardoso e companhia ao constatar que hoje em dia há muita gente, digamos assim, “indevida”, “sentando” nas cadeiras da presidenta Dilma e de todo o ministério. Tem gente sentando até em cadeira do STF! Da mesma forma que a história do golpe civil-militar militar de 1964 não lhes serve de lição, a dedetizada na cadeira municipal de São Paulo nada diz aos arrogantes “novos golpistas”, deste grupo fazendo parte o próprio FHC, de triste memória curta. De nada serviu também para Aécio que, meia hora antes das apurações finais das eleições de 2014, já se sentia esparramado na cadeira presidencial. E foi a sua insatisfação (o seu inconformismo, sua batida de pé, menino mimado que sempre foi) com a derrota uma das responsáveis pela crise política que vivemos.
As ruas já estão mostrando a eles que não será fácil essa “sentada”. Não as ruas patrocinadas pela Fiesp e pela Globo, sem um negro ou um pobre. Mas as ruas tomadas por pessoas de todas as classes, que sabem viver em sociedade. Muita gente de vermelho, mas também de verde e amarelo, com mais de 50 tons de democracia. Sabemos o quanto é difícil enfrentar o golpe midiático. Como é maniqueísta o dia-a-dia da TV Globo e outras emissoras, que se esquecem neste momento da boa e salutar concorrência; e dos jornais que se revezam nos “furos de reportagem” cômodos, colhidos pelo telefone e pelo computador, vazado ilegalmente de várias esferas, até de juízes federais como Sérgio Moro.
Está difícil pegar táxi e ouvir a mesma ladainha que motoristas ouvem não pela obrigação de saber do trânsito, mas pela rotina. Está difícil, mas como não somos arrogantes, e sabemos que viver é duro e que nada cai do céu, vamos lutando para mantermos a presidenta Dilma sentada na cadeira que lhe foi confiada por mais de 54 milhões de brasileiros. Os inconformados que esperem por 2018. E que não se iludam com o DataFolha. Que esperem até o final. Pois, como dizia o Velho Guerreiro: “Buzina do Chacrinha, um programa que só acaba quando termina”.