Por Adriana do Amaral, jornalista
Em seu livro Amor à Maneira de Deus, o padre Júlio Renato Lancellotti nos instiga a refletir sobre a exclusão social sob o prisma da fé. Não necessariamente pela religião.
No capítulo 2, justifica, de certa maneira, a própria visão de mundo: precisamos olhar o pobre e vê-lo como lugar teológjco, ou seja, lugar de manifestação de Deus”. Não com aceitação passiva, e sim conflituosa.
Em alguns momentos ele usa a palavra como arma, noutras recorre às marretas. Como na ação isolada, quando literalmente tirou os obstáculos debaixo do viaduto, como na ação de hoje (12), quando, simbolicamente, retirou os obstáculos de frente da biblioteca pública Cassiano Ricardo, no Tatuapé, Zona Leste de São Paulo. Desta vez não estava sozinho.
O Ato Contra a Aporofobia, organizado pelo Observatório de Aporofobia, com o apoio da Pastoral do Povo da Rua e Bibliotecas Municipais aconteceu, simbolicamente, no mesmo dia em que o presidente eleito, Luiz Inácio Lula da Silva foi diplomado pelo STF, nesta segunda-feira, 12. Coincidência feliz.
Romper os obstáculos da chamada arquitetura hostil, quando pedras e grades são colocadas nos espaços públicos para impedir que as pessoas em situação de rua possam descansar, de certa forma, também remete aos bloqueios nas estradas pelos caminhoneiros e ação policial que impediu brasileiros de votarem no segundo turno das eleições.
A Lei Padre Julio Lancelotti (448/2021), que proibe a instalação de recursos físicos com o intuito de barrar o uso dos espaços públicos pela População de Rua foi aprovada com unanimidade pelo Congresso Nacional. Até o dia 19 ela poderá ser sancionada ou revogada pelo presidente. Caso ele se omita, ela estará vigente, automaticamente, caso ele crie obstáculos legais, caberá recurso. Ou seja, Bolsonaro mais uma vez pode entrar para a história pela ação ou omissão.
A lei é exemplo de que o pequeno, o fraco e o oprimido, quando visibilizado, tem lugar na sociedade. Apenas é preciso ter olhos para ver, braços para acolher, palavas para promover, políticas públicas para proteger.
Não é por acaso que o padre Júlio, o nosso santo vivo, enfrentou pequeno o início da pandemia, em março de 2020, e se agigantou. Tornou-se um “colecionador” de prêmios, uma referência moral viva.
No livro, ele cita Madre Teresa de Calcutá: tudo aquilo que você fez na vida pode ser destruído em cinco minutos. Faça assim mesmo. Eu cito padre Júlio: a esperança está na possibilidade de uma vida sem discriminação… está na diferença em como cada um responde ao amor. Segundo ele, “quem ama é capaz de amar mais”.