Por René Ruschel, publicado em Carta Capital –
A ex-presidenta foi proibida de visitar o amigo na superintendência da Polícia Federal. O pedido de Ciro Gomes também foi negado
Na entrevista coletiva concedida na saída do prédio da Superintendência da Polícia Federal, em Curitiba, Dilma Rousseff comparou a prisão de Lula ao regime prisional dos tempos da ditadura. “Eu tenho uma certa experiência com estar presa. Mesmo durante a ditadura, havia a possibilidade de receber parentes, amigos e advogados”.
A ex-presidenta foi impedida pela Justiça de visitar o amigo na tarde desta segunda-feira 23. O pedido do presidenciável Ciro Gomes também foi negado.
Dilma chegou à sede da PF acompanhada dos senadores Gleisi Hoffmann e Lindbergh Farias, do PT, e Roberto Requião, do MDB. A ex-ministra de Políticas para Mulheres, Eleonora Menicucci, e a deputada petista Maria do Rosário também compunham a comitiva.
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“Como Lula, sou vítima de lawfare”
A ex-presidenta foi recebida pelo superintendente da PF, Mauricio Valeixo. Pouco antes, a juiz Carolina Lebbos havia indeferido todos os pedidos de visita a Lula, inclusive do Prêmio Nobel da Paz, Adolfo Perez Esquivel, que esteve em Curitiba na sexta-feira 20.
Segundo a juíza, o regime de visitas deve se atentar à segurança e à disciplina do estabelecimento, e que Lula tem seus direitos garantidos ao receber semanalmente a família e os advogados.
“Mormente em ambiente no qual se desenvolvem outras funções públicas, como atividades de investigação e de atendimento à população, razões de interesse público possuem o condão de justificar validamente a restrição, de modo a não inviabilizar o bom funcionamento da instituição”, escreveu.
Dilma voltou a criticar a decisão da Justiça e afirmou que Lula é um preso político, condenado sem provas. O Brasil, definiu, sofre um processo muito triste. “Lutamos muito pela democracia, portanto ela tem um valor especial. Assim, temos que ficar atentos como opera a Justiça. Hoje foi Lula, amanhã pode ser qualquer cidadão ou cidadã”.
Dilma prosseguiu na comparação com 1964: “Enquanto o golpe militar corta pela raiz a árvore da democracia, vivemos um momento que a árvore da democracia é comida por fungos”.
E reiterou que a razão da prisão de Lula foi impedir sua candidatura. “Prendê-lo faz parte de uma tentativa de manter o golpe vivo. Eles querem tirar justamente quem pode derrotar esse mesmo golpe em 2018”. A ex-presidenta disse, porém, acreditar na possiblidade de Lula disputar as eleições. “Ele não foi cassado, como faziam na época da ditadura. Só falta eles tentarem cassa-lo de forma artificial, impedindo sua candidatura”.
Em relação ao plano B do PT, na impossibilidade de o ex-presidente vir a se candidatar, Dilma classificou como uma obsessão da mídia. “Quando eu sofri o impeachment diziam ‘renúncia presidente, porque é mais digno’. Não, digno é lutar. A mesma coisa com o Lula. Por que plano B? Você teria plano B se considerasse em algum momento o Lula culpado. Nós o consideramos inocente. Porque querem que nós, as mãos que o apoiam, o retiremos do pleito?”.
Após a coletiva, Dilma fez um discurso para manifestantes e militantes que a aguardavam no acampamento nas proximidades da sede da PF.