Retratos da pandemia no Brasil distante das metrópoles

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Por Flávia Campuzano, compartilhado de Projeto Colabora – 

A periferia no Centro, projeto do #Colabora e do Favela em Pauta, seleciona jovens jornalistas para abordar os efeitos e consequências da covid-19 em diferentes regiões do país

Agricultora no ponto de venda de produtos agroecológicos: alternativa saudável na pandemia. Foto de Millena Fagundes

Para apoiar a produção de reportagens sobre os efeitos da pandemia da Covid-19 em localidades fora do eixo RJ / SP, o #Colabora e o Favela em Pauta selecionaram quatro jornalistas que pudessem escrever sobre a relação da pandemia e os Objetivos do Desenvolvimento Sustentável da ONU em diferentes localidades brasileiras, que fossem representativas da diversidade de regiões do país.




Alice, Ariel, Luciana e Ludmila, as escolhidas, são quatro mulheres que simbolizam muito bem o Brasil das periferias, de realidades tão distintas como as dos ribeirinhos na Amazônia, dos cantos de São João del-Rei (MG), de quilombos urbanos em Goiás e de aldeias indígenas do sul da Bahia. Um retrato do Brasil real, plural e diverso.

Alice Maciel de Souza, ou Nuhé, seu nome indígena, é mais conhecida como Alice Pataxó, nome de sua etnia, presente no litoral baiano e em parte de Minas Gerais. Nuhé é uma referência à força, luta e resistência, Alice explica que os nomes têm significados, são muitas vezes desejos, ou espelhos dos seus espíritos; e por isso, a jovem de 19 anos se vê forte e resistente diante da luta de seu povo. Alice é a segunda filha de três irmãos, mora em Porto Seguro, com outra parente Pataxó que também saiu da aldeia para estudar. Na Aldeia Craveiro, em Barra Velha, Sul da Bahia, ela se sente de fato em casa e assume o papel de comunicadora ao falar de acontecimentos do território, de ser ativamente política e ajudar a projetar a voz dos líderes; foi assim que se aproximou da comunicação e do jornalismo. É fundadora do canal Nuhé no YouTube e estudante de Bacharelado Interdisciplinar em Humanidades pela Universidade Federal do Sul da Bahia (UFSB). Alice escreveu sobre o impacto da pandemia nas comunidades indígenas. Além da luta pela saúde e o enfrentamento à pandemia, indígenas de diversas partes do pais ainda tiveram que enfrentar ameaças de invasões e lutar contra a exploração ilegal de recursos naturais em seus territórios.

Ariel Rodrigues Bentes tem 23 anos, é manauara, de Novo Aleixo, subúrbio da capital. Mora com a mãe, a avó e a irmã caçula, uma típica família brasileira liderada por mulheres. Antes de os pais se separarem, a família morou em Careiro Castanho, interior do Amazonas. O sonho de Ariel sempre foi entrar na faculdade, e lá pelo oitavo ano começou a ler sobre jornalismo. O primeiro incentivo veio do pai, policial militar, que sempre a chamava para assistir aos telejornais; no começo ela relutava, mas depois entendeu quando ele dizia que “uma pessoa bem informada sempre se destacaria de alguma forma”. Ariel está se formando este ano pela UFAM, Universidade Federal do Amazonas. A jornalista escreveu sobre a comunidade ribeirinha de Nossa Senhora do Livramento, localizada na zona rural de Manaus, e de como os moradores da localidade lutam para ter o básico em meio à pandemia, já que não tem acesso à água tratada e nem à rede de esgoto.

Luciana Ribeiro Petersen, 23, mora em São João del-Rei (MG) há cinco anos, em uma república com outras três estudantes, desde que ingressou na Universidade Federal de São João del-Rei (UFSJ). Paulista de Santa Isabel, caçula de três irmãos, morava com a mãe professora e o pai pastor batista. Luciana também segue a religião, mas em uma perspectiva mais progressista, atua na militância dentro da igreja para desconstruir opressões e preconceitos. O centro de São João del-Rei, região em que mora, reúne muitos universitários, mas a jovem jornalista tem preferido observar as dinâmicas periféricas da cidade histórica mineira. Seu tema de interesse é a história negra, que ela considera frequentemente apagada. A pandemia atrasou a formatura para 2021; enquanto isso, Luciana quer direcionar seu olhar para as populações ancestrais originais, porque “a gente olha e não vê essa história”. Por isso, ela escreveu sobre a resistência no Acampamento Quilombo Campo Grande e de iniciativas de agroecologia e agricultura familiar, que podem ajudar a combater a fome endêmica em várias regiões.

Ludmila Pereira de Almeida é de Goiânia. Aos 27 anos, formada em Letras, cumpre agora a pós-graduação no mesmo curso, junto com a reta final do curso de jornalismo na Universidade Federal de Goiânia (UFG). Mora com os pais aposentados, a irmã caçula e 3 cachorrinhas em Vila Concórdia, bairro da região leste, de vielas estreitas, a meia hora de ônibus do centro. Começam a chegar por lá um shopping center e novas opções de comércio, mais “urbanidade”, palavra usada por ela. E palavra é termo fundamental para a jornalista, que sempre gostou de literatura, mas se interessou especialmente pela sociolinguística voltada para a “descolonialidade”, termo acadêmico discutido na América Latina que busca ir contra a lógica do colonizador. Ludmila quer ir atrás de histórias não contadas ou pouco visíveis, como na reportagem sobre os quilombos urbanos Jardim Cascata e Vó Rita.

As jornalistas foram orientadas pelos editores Aydano André Motta, Gabi Coelho e Michel Silva, e tiveram também aula de captação e edição de vídeo com Yuri Fernandes, repórter do #Colabora. Gabi Coelho e Michel Silva coordenam o coletivo Favela em Pauta, atuando com profissionais de comunicação de áreas periféricas de várias partes do Brasil. Coube a eles a tarefa de selecionar os quatro jovens para o projeto.

O Projeto A Periferia no Centro tem o apoio da Fundação Heinrich Böll.

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