Por Eduardo Bresciani, Isabel Braga e Manoel Ventura* do O Globo, publicado no Jornal Extra –
BRASÍLIA — Menos de uma semana depois de virar réu no Supremo Tribunal Federal (STF), o presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), recebeu dezenas de delegados da Polícia Federal em seu gabinete nesta terça-feira. Os profissionais vieram lhe pedir apoio na tramitação de Proposta de Emenda à Constituição (PEC) que dá autonomia funcional, administrativa e financeira para a corporação. A inusitada presença de delegados no gabinete de um réu gerou comentários irônicos até de deputados que dão apoio ao peemedebista.
– Você viu? Tem um monte de PF na sala dele e não vieram para levar o Cunha! – disse um dos principais aliados do presidente.
O encontro foi organizado pelo deputado Fernando Francischini (SD-PR), que teria sido citado na delação premiada do senador Delcídio Amaral (PT-MS), de acordo com trecho publicado pela revista IstoÉ. Francischini é delegado da PF e também brincou quando foi questionado se o agente Newton Ishii, mais conhecido como “Japonês da Federal”, estava entre os presentes.
– O japonês hoje não veio. Ele tem que cuidar das coisas dele lá no Paraná – disse Francischini.
Presidente da Associação Nacional de Delegados da Polícia Federal, Carlos Eduardo Miguel Sobral, disse não ter constrangimento em pedir apoio a um réu na Lava-Jato para conseguir levar adiante a pauta de sua classe.
— Não há constrangimento nenhum. Ele é o presidente da Câmara, representa um poder e nessa qualidade foi visitado – disse Sobral.
Cunha se comprometeu a instalar a comissão especial. Antes, porém, caberá à Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) votar pela admissibilidade da proposta de autonomia para a PF. O presidente da Câmara evitou avançar na opinião sobre o mérito do projeto.
– Não temos ideia se está ou não precisando (de autonomia). É uma proposta que está na Casa e eu estou criando a comissão especial. A Casa que vai discutir. Eu não tenho opinião. Não conheço o texto – disse o presidente da Câmara.
A proposta em tramitação na Câmara daria poder aos gestores da PF para direcionar livremente os recursos e fazer mudanças administrativas. A proposta tem apoio dos delegados da PF, mas sofre oposição de agentes, escrivães e papiloscopistas, que chegaram a realizar protestos no país no ano passado.
* Manoel Ventura, estagiário sob orientação de Maria Lima.