Por Daniel Buarque, publicado em seu Blog –
Em um longo texto com forte teor crítico a respeito do governo de Jair Bolsonaro e as mudanças na política externa do Brasil desde o início do ano, a revista americana Jacobin publicou um artigo em que analisa a situação do país e diz que o ministro das Relações Exteriores, Ernesto Araújo, é o “pior diplomata do mundo”.
“O principal arquiteto da política externa de Jair Bolsonaro combina retórica nacionalista raivosa com submissão patética aos Estados Unidos”, diz o artigo.
Segundo a publicação, questões de política doméstica do novo governo são marcadas por problemas, mas a política externa é importante para entender o papel do Brasil na ascensão da direita em muitos países.
“Ao representar um papel reacionário para o Brasil no mundo, Araújo está tentando abertamente ganhar pontos políticos em casa, já que o conservadorismo declarado retomou o mainstream brasileiro. (…) A onda reacionária transnacional com a qual Araújo comprometeu o Brasil pode muito bem já ter atingido seu ponto alto. Enquanto isso, ele não demonstrou ter força para trazer o Brasil de volta da margem, caso os ventos da diplomacia internacional comecem a mudar.”
O artigo é assinado por Andre Pagliarini, professor da universidade de Brown, nos Estados Unidos, por onde também fez seu doutorado sobre nacionalismo no Brasil.
Com orientação abertamente de esquerda, a revista Jacobin se propõe a divulgar “perspectivas socialistas sobre política, economia e cultura”. Apesar do alinhamento político dela ser foco tradicional de grandes críticas entre políticos americanos (e da campanha de Bolsonaro no Brasil), o enfoque da publicação tem ganhado visibilidade nos EUA e em outros países como uma reação a movimentos de direita, como a vitória de Donald Trump. Segundo uma capa recente da revista The Economist (que se encontra no espectro político oposto), trata-se do “socialismo milenial”.
Independentemente do alinhamento da publicação, a crítica a Araújo ecoa as principais análises internacionais sobre a mudança ideológica na política externa do Brasil, com menor viés político, mas tom igualmente negativo. Apesar de as medidas do governo Bolsonaro sobre a economia ganharem apoio do Mercado global, as medidas relativas a política externa têm sido muito criticadas. A indicação de Araújo foi criticada desde o seu anúncio pelo presidente. Segundo especialistas em diplomacia que estudam o Brasil, o Brasil parece deixar de lado sua tradição e “dar as costas ao mundo”. Outras análises apontam para os riscos dessas medidas para o soft power do país.