Preso em 1995 em um esquema que desviou R$ 1,6 bilhão do Banco do Brasil, Maciel teria sido empregador de Ricardo Nunes, segundo filho Juliano Maciel. Indagada sobre a relação, defesa do prefeito fez duras ameaças
Por Plinio Teodoro, compartilhado de Fórum
Mais um “fantasma” do passado nebuloso de Ricardo Nunes (MDB), candidato de Jair Bolsonaro (PL) e Tarcísio de Freitas (Republicanos) em São Paulo, apareceu para assombrar o prefeito, que herdou a cadeira de Bruno Covas (PSDB) e tenta continuar no comando da maior cidade do país.
Repórter do site The Intercept, Paulo Motoryn fez perguntas simples à assessoria de Nunes sobre Osvaldo Cavalcante Maciel que, segundo o filho dele – Juliano Maciel -, teria sido patrão do atual prefeito paulistano.
“Fiz as seguintes perguntas à assessoria de imprensa de Nunes: ‘Por quantos anos o prefeito trabalhou com Maciel? Qual função? Entre 1994 e 1996, o prefeito foi remunerado com parte do patrimônio de Maciel?'”, revela o repórter na reportagem.
Como resposta, o jornalista recebeu um texto da defesa de Nunes, assinado pelo advogado criminalista Daniel Bialski, com uma série de ameaças.
“O site Intercept Brasil procurou a campanha de Ricardo Nunes (MDB), com acusações graves, caluniosas e totalmente infundadas que tentam vincular o prefeito a um escândalo de fraude bancária ocorrido em meados da década de 1990”, dispara a defesa de Nunes.
Em seguida, a ameaça: “a defesa de Ricardo Nunes manifesta seu repúdio e sua indignação diante da tentativa vergonhosa de envolver o prefeito de São Paulo, as vésperas da eleição, numa trama sórdida, com a qual ele não tem qualquer envolvimento. Adianta, inclusive, que vai ingressar, imediatamente, na Justiça, e adotará as medidas criminais contra os autores, asseclas e participes das acusações falsas, caluniosas e inescrupulosas que procuram de forma criminosa envolver Nunes em algo que não tem qualquer relação com a sua história ou com seus atos.
“A defesa de Nunes buscará a reparação judicial e a condenação por esses crimes também dos aloprados que atuam como mandantes dessa tentativa desesperada de tumultuar e manchar a reputação e a dignidade do prefeito – uma farsa que fere a democracia e desrespeita os eleitores”, segue o advogado, de forma raivosa, negando que Nunes tenha recebido um “centavo do senhor Oswaldo (SIC) Cavalcante Maciel”.
Afinal, Nunes, quem é Osvaldo Maciel?
Na reportagem, Motoryn afirma que se interessou pelo nome há cerca de dois meses, a partir de uma série do site De Olho nos Ruralistas que revelou a suposta ligação entre Maciel e Ricardo Nunes em um dos episódios intitulado “Como o prefeito de SP ficou subitamente milionário, em 1994”.
No vídeo, um ex-vizinho afirma que o prefeito era empregado de Maciel. A informação foi confirmada com o filho, Juliano Maciel.
“De fato, o Ricardo Nunes foi funcionário do meu pai. Foi funcionário. Eu confirmo. A função dele na companhia eu não sei”, afirmou o empresário.
Roubo de R$ 1,6 bi do Banco do Brasil
Osvaldo Cavalcante Maciel foi preso em 1995 e condenado como membro de uma quadrilha que aplicou uma das maiores fraudes da história no Banco do Brasil.
Em valores atualizados, a quadrilha de Maciel roubou R$ 1,6 bilhão do banco estatal à época.
Em reportagem do dia 12 de outubro de 1995, a Folha de S.Paulo afirma que “as fraudes foram feitas em 499 empréstimos da agência do banco em Jundiaí (a 60 km de SP). As operações teriam sido feitas com 46 empresas e sem garantias”.
Além de Cavalcante, a quadrilha contava com o auxílio do gerente da agência e 10 funcionários do banco. Outros empresários foram detidos na ação, entre eles Domingos Rosólia Neto, que foi preso em Miami pelo FBI em maio de 1996.
Segundo a investigação, foram encontradas provas do envio ilegal de US$ 500 mil para bancos no exterior, da existência de duplicatas falsas e de vários crimes contra o funcionamento de instituições financeiras.
“Recuperamos muito pouco do que foi roubado do banco”, disse à época o delegado Wolney Ferreira, que estava à frente do inquérito.
Na reportagem, o jornalista do site The Intercept ressalta que, ” pela integridade da informação, é importante fazer as seguintes ponderações: i) Nunes nunca foi investigado ou relacionado a qualquer tipo de crime associado à fraude no Banco do Brasil; ii) não existem acusações ou provas de que ele teria se envolvido ou beneficiado financeiramente do crime”.
Na resposta, de duas páginas, com as ameaças ao jornalista, a defesa de Nunes não respondeu a nenhuma das perguntas e deixou em aberto a principal delas: “quem é Osvaldo Maciel e Nunes trabalhou para ele?”. Leia a íntegra da resposta enviada ao The intercept.