Publicado em Carta Campinas –
Otrecho morto do maior Rio Tietê, maior rio do estado de São Paulo, alcançou a marca recorde de 163 km em 2019, um aumento de 33,6% em relação ao ano anterior (122 km). Os dados são do relatório Observando o Tietê 2019 — O retrato da qualidade da água e a evolução dos indicadores de impacto do Projeto Tietê, divulgado pela Fundação SOS Mata Atlântica na manhã desta quinta-feira (19).
O estudo leva a constatar que após 20 anos de administração do PSDB no estado e cerca e R$ 8 bilhões gastos com a despoluição, o rio continua impróprio para o uso, com a qualidade de água ruim ou péssima em 28,3% (os 163 km) da extensão monitorada, que totaliza 576 km — de Salesópolis, na sua nascente, até a jusante da eclusa de Barra Bonita, na hidrovia Tietê-Paraná.
Nos demais 413 km monitorados (71,7%), o rio apresentou qualidade de água regular e boa, condição que permite o uso da água para abastecimento público, irrigação para produção de alimentos, pesca, atividades de lazer, turismo, navegação e geração de energia.
Os dados apresentados foram medidos em 99 pontos de coleta monitorados mensalmente, entre setembro de 2018 e agosto de 2019, por 84 grupos de voluntários do Observando os Rios, projeto da Fundação SOS Mata Atlântica que conta com o patrocínio da Ypê e apoio da Sompo. Os pontos analisados estão distribuídos em 73 rios das bacias hidrográficas do Alto Tietê, Médio Tietê, Sorocaba e Piracicaba, Capivari e Jundiaí, que abrangem 102 municípios das regiões metropolitanas de São Paulo, Campinas e Sorocaba.
Segundo Malu Ribeiro, especialista em Água da SOS Mata Atlântica, a ampliação da mancha de poluição sobre o rio reflete os impactos da urbanização intensa, da falta de saneamento ambiental, da perda de cobertura florestal, da insuficiência de áreas protegidas e de fontes difusas de poluição, agravados por uma situação hidrológica crítica. Isso porque as chuvas deste período nas bacias do Alto e Médio Tietê registraram volumes 20% inferiores à média dos últimos 23 anos.
“Rios e águas contaminadas são reflexo da ausência de instrumentos eficazes de planejamento, gestão e governança. Refletem a falta de saneamento ambiental, a ineficiência ou falência do modelo adotado, o subdesenvolvimento e o desrespeito aos direitos humanos”, complementa a especialista.
Ela destaca também a urgência do aprimoramento de normas que tratam do enquadramento dos corpos d’água, estabelecendo metas progressivas de qualidade da água e excluindo os rios de classe 4 da legislação brasileira — na prática, essa classe permite a existência de rios mortos, pois admite a existência de rios sem limites de diluição de poluentes.
Além disso, para ela é fundamental ampliar os serviços de saneamento básico e ambiental, e investir em serviços baseados na natureza, com a ampliação de áreas protegidas, de parques lineares e de várzeas, integrando essa “infraestrutura verde” à “infraestrutura cinza” (reservatórios e sistemas de recursos hídricos). (Com informações de divulgação)