Por Oscar Valporto, publicado em Projeto Colabora –
Prefeito ignora o Dia Mundial do Meio Ambiente enquanto planeja derrubar 180 mil árvores de Mata Atlântica para fazer autódromo
Como todo carioca sabe (ou deveria aprender na escola e ficar sabendo) o Rio de Janeiro abriga a maior floresta urbana do mundo, com uma extensão de quase 4 mil hectares (3.953) de Mata Atlântica Nossa fama de Cidade Maravilhosa é, em boa parte, alimentada por esse cenário verde que contrasta com o azul do mar: estão na Parque Nacional da Tijuca, o Morro do Corcovado, com a estátua do Cristo Redentor, eleito uma das sete maravilhas do mundo moderno, a Pedra da Gávea, as Paineiras, a Vista Chinesa. O Parque Nacional da Tijuca é o mais visitado do Brasil – mais de três milhões de pessoas por ano, cariocas, brasileiros e estrangeiros: impulsiona o turismo e, além de enfeitar a paisagem ainda, ajuda a cidade ao manter os mananciais, diminuir a poluição atmosférica e a poluição sonora, atenuar o calor, regular o clima, e controlar a erosão.
Na quarta-feira, dia 5, celebrou-se o Dia Mundial do Meio Ambiente, e não vi a Floresta da Tijuca e seu parque nacional – que tem gestão compartilhada: federal, estadual e municipal – na agenda de nenhuma autoridade. Não passaram por lá nem prefeito, nem governador, nem ministro o que deve ser bom porque nenhum deles parece ser muito amigo das causas ambientais. Mas voltarei às autoridades depois de falar mais da cidade.
O Rio de Janeiro tem quase 30% de seu território coberto por unidades de conservação: além do Parque Nacional da Tijuca, são cariocas o Parque Estadual da Pedra Branca,(Zona Oeste) Parque Estadual do Grajaú (Zona Norte), Parque Estadual da Chacrinha (Zona Sul), Reserva Biológica de Guaratiba (Zona Oeste), e as Áreas de Proteção Ambiental do Gericinó/Mendanha e de Sepetiba – apesar de estaduais, os parques do Grajaú e da Chacrinha, também são administrados pela Prefeitura do Rio. É só para provar meu ponto da importância ambiental da cidade.
Voltemos ao Dia Mundial do Meio Ambiente: o ministro Ricardo Salles estava em Aragarças, Goiás, para o lançamento do projeto Juntos pelo Araguaia, que prevê a recuperação de 10 mil hectares de áreas de preservação permanente ao longo da calha do rio – projeto de significativa relevância, aparentemente, por mais que se desconfie deste ministro e deste governo. O governador do Rio de Janeiro, Wilson Witzel, inaugurou pessoalmente um espaço à beira da Lagoa Rodrigo de Freitas para incentivar e desenvolver a educação ambiental, menos impactante que o projeto federal, mas também simbólico para marcar a data. O prefeito Marcelo Crivella, administrador deste paraíso ambiental aqui, não teve uma agendinha sequer para celebrar a efeméride.
Não pensem que essa falta de atenção do prefeito tem a ver com a decisão anterior de recriar a Secretaria Municipal de Meio Ambiente – extinta por ele anteriormente – para acomodar novos aliados de olho no processo de impeachment que enfrenta na Câmara dos Vereadores e na campanha para a reeleição. A SMAC fez sua parte e programou uma semana inteira de atividades: inauguração de torre de observação no Parque de Marapendi, plantio de mudas em diferentes pontos da cidade, adoção de áreas verdes, palestras, exposição e seminários. Crivella não deu as caras. Sua única aparição pública na semana foi acompanhar uma ação de asfaltamento e conservação de ruas em Inhoaíba, na Zona Oeste.
Não chega a ser um surpresa. Não devemos esquecer também que o prefeito Crivella anunciou, no fim do maio, o vencedor da licitação para a construção de um autódromo em Deodoro, orçado em R$ 697 milhões, o que pode resultar – de acordo com estudo encomendado pelo Ministério Público Federal – na derrubada de cerca de 180 mil das 200 mil árvores da floresta do Camboatá, também na Zona Oeste, a última área plana de Mata Atlântica da cidade. Temos na prefeitura um inimigo da cultura, do espírito e do cenário carioca. Mas o Rio resiste – teve até notícia boa na semana: o estado teve desmatamento zero de Mata Atlântica entre 2017 e 2018.